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“Compromisso Nacional” dos 47/77 afinal é um produto do Grupo Jerónimo Martins

Foram três homens do Grupo Jerónimo Martins, que tiveram a iniciativa, escreveram e lançaram o manifesto que defende um compromisso nacional entre o PR e “os principais partidos” para no imediato “assegurar a credibilidade externa” e que o futuro Governo seja apoiado por “uma maioria inequívoca”.

Pode ter passado despercebido, mas o jornal Expresso de 16 de Abril, contou a história de como foi elaborado e quem são os autores do célebre manifesto dos 47, depois 77 e que agora está para subscrição no referido jornal. E como, passada mais de uma semana, a notícia não foi desmentida, pode-se partir do princípio que é verdadeira.

É uma história muito curiosa. São três os autores do documento: Alexandre Soares dos Santos, presidente do Conselho de Administração do Grupo Jerónimo Martins, Artur Santos Silva, ex-presidente do Grupo BPI, e António Barreto, sociólogo e presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Estes três senhores decidiram que era necessário agir, que precisavam escrever um manifesto, depois recolher assinaturas de personalidades importantes do nosso país e a seguir divulgá-lo em força. O curioso da história é que os três homens são afinal tudo homens importantes do Grupo Jerónimo Martins: Soares dos Santos é o presidente do Conselho de Administração, Santos Silva é vogal do mesmo Conselho e António Barreto é presidente da Fundação do Grupo.

E como para um grupo económico “não há almoços grátis”, só poderemos concluir que o manifesto dos 47 é na verdade um produto do Grupo Jerónimo Martins, destinado a influir na actual situação política portuguesa.

Depois de elaborado o texto, os três promotores pediram a subscrição dos ex-presidentes da República. Mário Soares ficou tão fã, que foi recrutado para a equipa e, certamente, deve ter-se tornado no principal angariador de assinaturas. Só o seu papel na recolha parece explicar a assinatura de pessoas, que normalmente costumam escrever exactamente o oposto do que o dito manifesto defende. Lamentável.

Já sabíamos o que o manifesto pretende: criar apoio social para ganhar uma maioria favorável à aplicação das medidas do FMI. São tão tenebrosas que precisam de um “compromisso nacional” e de um Governo de “maioria inequívoca”, garantido antes do povo escolher, para que possa ser inequivocamente um governo sem o povo e contra o povo. Afinal o oposto da célebre frase de Abraham Lincoln.

Lisboa, 23 de Abril de 2011

Sobre o/a autor(a)

Editor do esquerda.net Ativista do Bloco de Esquerda.
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