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A água já não é para todos
O abastecimento de água é uma das conquistas da democracia. Em 1974 a cobertura era bastante baixa, hoje em dia é de 98,2%. Apenas a democracia permitiu colocar as necessidades sociais no topo das prioridades. Apenas o investimento público permitiu a sua concretização. E, diga-se, tratou-se de um fator essencial à própria democracia. Passamos a nascer mais iguais: a mortalidade infantil, por exemplo, desceu imenso (também devido a outras conquistas na área da saúde, educação, etc.).
A Entidade Reguladora para os Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) alertou ontem, dia nacional da água, que “há cada vez mais famílias a utilizarem poços e furos em Portugal, para evitar pagar a fatura da água”. O Presidente da Entidade esclarece que “são origens de água que representam um claro risco para a saúde pública e nós desincentivamos fortemente esta prática”. A causa é também identificada: "resulta essencialmente de uma situação de crise económica e social". É assim um país que recua.
Mas basta pesquisar algumas notícias sobre o assunto para perceber que, em 2012, o preço da fatura de água aumentou - em média - 8%. E, mais, para saber que a ERSAR e o Governo consideram a subida de preços um dado positivo e a continuar. É mesmo um objetivo. É assim um país que caminha para trás.
Esta situação coloca em destaque a irracionalidade e a insensibilidade de um sistema económico. Os recursos de todos garantiram as infraestruturas e o serviço público. Mas agora os mais desprotegidos vêm-se excluídos do sistema. A privatização é o objetivo e a água é tratada como um negócio e não como um serviço público. Aumentam-se os preços e a exclusão para colocar o que é de todos ao serviço do lucro de poucos.
É este o país da troika. Um país que teima em recuar a antes de 1974. Na saúde, na educação e também na água. Um regime que torna a água num bem de luxo pela subida do preço, pela destruição do tecido social, pela quebra nos salários e nas prestações sociais e pelo desemprego.
A ERSAR tem razão a água das torneiras é segura e o recurso aos poços é perigo. É isso mesmo, o capitalismo é perigoso, o regime da troika é inseguro. A alternativa é segura e solidária.
Comentários
artigo muito interessante
artigo muito interessante pelo esclarecimento dos dados, pelo alerta da situação em causa e pelos fundamentos da perda do direito básico de acesso a água com qualidade de consumo. O que tem de estar garantido é o consumo mínimo de dignidade e nunca o consumo obrigatório para a rentabilidade. A água é um bem da humanidade e tem de ser repartido com igualdade de acesso. É uma conquista e um pilar da democracia.
NOTA: sem pretensiosismo nem qualquer sentido de correção, penso que na parte final do 1º parágrafo quando diz "...natalidade infantil" deve dizer mortalidade infantil.
abraço camarada
Este artigo não contribui
Este artigo não contribui para esclarecer nem para questionar. Só reafirma ideias pré-concebidas.
O autor terá alguma dificuldade, para dizer o menos, em demonstrar com números o tal "lucro de poucos" que torna hoje a água um bem de luxo, e que é supostamente extraído das faturas pagas pelos portugueses.
Recordo que todo o serviço grossita é assegurado por empresas públicas e os serviços retalhistas são prestados por uma esmagadora maioria de entidades públicas. Então quando falamos de lucro de poucos estamos a falar do quê?
O tema merece ser debatido com amis densidade.
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