Está aqui

Partidos pró-austeridade não conseguem maioria na Grécia

Com 100% dos votos contados, os resultados mostram que o Nova Democracia e o PASOK obtiveram 32%. O líder do Syriza, a coligação de esquerda que quadriplicou os votos e alcança o segundo lugar na eleição, propõe um governo de esquerda para romper com o memorando e diz que "Merkel tem de perceber que as políticas de austeridade sofreram uma grande derrota". Resultados na Grécia são um “sinal importante que o povo grego dá à Europa”, afirmou a eurodeputada do Bloco Marisa Matias.
Alexis Tsipras na declaração da noite eleitoral. Foto Orestos Panagioutu/EPA

A imprensa internacional fala em reviravolta na Europa e, olhando para a Grécia, não é para menos. O resultado das eleições gregas representa um autêntico terramoto político: os dois partidos da troika (Nova Democracia e PASOK) sofreram uma queda acentuada em relação às eleições de 2009, com os socialistas a baixarem 30% (menos 2.182.019 votos) e os conservadores 14% (1.107.670 votos). Com 95% dos votos contados, os resultados mostram que os partidos da austeridade não conseguiram a maioria, tendo obtido 32,05%, conseguindo 149 dos 300 deputados do Parlamento (a desproporção entre a percentagem e o número de deputados explica-se por um “bónus” que dá 50 deputados extra ao partido vencedor).

A queda estrondosa da Nova Democracia e do PASOK, que ainda nas últimas legislativas de 2009 tinham obtido 77% dos votos, foi contrabalançada por uma espectacular subida do Syriza, coligação de esquerda radical. A coligação Syriza, que se opõe ao memorando da troika, confirma-se como a segunda força política grega e a primeira da esquerda, tendo quadriplicado o número de votos desde a última eleição, conseguindo mais 740.684 votos e 52 lugares no palamento. 

"Os gregos querem cancelar o memorando da barbárie"

Alexis Tsipras, o líder da coligação Syriza, afirmou que o resultado de domingo mostra que os gregos e os europeus querem "cancelar o memorando da barbárie" a que a troika tem sujeitado o seu país nos últimos anos. Na sua declaração aos apoiantes, Tsipras propôs a formação de um governo de esquerda e disse que esta eleição é "uma mensagem de derrube" do governo da troika.

"A nossa proposta é a de um governo de esquerda que, com o apoio do povo irá recusar o memorando e pôr fim ao rumo pré-determinado do país para a miséria", afirmou Tsipras, que disse estar certo que a subida meteórica do Syriza não se deve a uma pessoa ou partido em especial, mas a esta proposta que repetiu na campanha eleitoral. A coligação parceira do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu e no Partido da Esquerda Europeia - de que Tsipras é vice-presidente - venceu as eleições em onze círculos eleitorais, incluindo a capital Atenas.

O líder do PASOK falou antes de Tsipras e reagiu à derrota histórica, dizendo que procurará formar um governo com os partidos que apoiam o memorando. Evangelos Venizelos disse estar certo que os resultados deste domingo "excluem o velho sistema dos dois partidos" no governo. Mais de dois terços dos deputados do PASOK não renovaram o seu mandato, incluindo alguns dos principais quadros, que foram punidos por um eleitorado furioso pelo papel do partido no subjugar da Grécia ao programa da UE e do FMI. Os que ficaram de fora do parlamento incluem o presidente do Parlamento Philippos Petsalnikos, o ex-ministro do interior Yiannis Ragousis, ex-ministro da cultura Pavlos Geroulanos, a ex-ministra do desenvolvimento Anna Diamantopoulou, o ex-ministro da Justiça Miltiadis Papaioannou, o ex-ministro das Finanças Yiorgos Papaconstantinou, o ex-ministro dos Transportes Dimitris Reppas, e o ex-ministro do Trabalho Yiorgos Koutroumanis, que presidiu à total desregulamentação das relações de trabalho e à abolição, na essência, das negociações de contratos coletivos.

Antonis Samaras, líder do partido mais votado, reagiu aos resultados conhecidos com duas condições para dar início à formação do governo: a manutenção do euro e a mudança das políticas do memorando da troika para "ter crescimento e dar alívio à sociedade grega".

Em comunicado, o KKE já veio rejeitar a proposta do Syriza, classificando esta força de social-democrata e acusando-a de servir para impedir a radicalização da sociedade grega. Para a secretária-geral Aleka Papariga, o resultado do partido (teve um ganho eleitoral marginal de 16.650 votos em relação a 2009) não foi uma surpresa, mas a distribuição dos votos indica que o KKE não conseguiu mobilizar o sentimento antitroika do povo grego desta eleição, nem mesmo nos tradicionais bstiões eleitorais comunistas, perdendo votos nas zonas urbanas, onde disputa deputados com os neonazis. O surgimento em força da Aurora Dourada - sobretudo no voto urbano e nos bairros populares - veio abalar a política grega.

Os resultados eleitorais: 18,85% para a Nova Democracia (108 lugares no parlamento), 16,78% para o Syriza (52 lugares), 13,18% para o PASOK (41 lugares), 10,6 para os Gregos Independentes (33 lugares), 8,48% para o KKE -PC grego (26 lugares), 6,97% para os neonazis da Aurora Dourada (21 lugares) e 6,1 % para a Esquerda Democrática (19 lugares). Os Verdes obtiveram 2,93%, não elegendo ninguém. A extrema-direita do LAOS, que participou e depois rompeu com o governo da troika, também não elege deputados, tendo obtido 2,9%. A abstenção foi de 34,91%. A Nova Democracia vence em 38 círculos eleitorais e o Syriza em 13, mas a coligação de esquerda ganha nos mais populosos, incluindo todos os que elegem mais de dez deputados. O PASOK ganha as eleições em quatro círculos e o KKE sai vencedor em apenas um.

Ver mais resultados aqui.

Resultados na Grécia são um “sinal importante que o povo grego dá à Europa”

“Já felicitámos o dirigente e o candidato da coligação de esquerda, com quem temos excelentes relações e com quem temos feito um caminho conjunto no sentido de combater esta Europa de austeridade”, informou Marisa Matias.

A eurodeputada do Bloco de Esquerda considera que, com estes resultados, o povo grego “rejeitou a deriva neoliberal de austeridade”. “O que é muito importante porque é um sinal claro de que o povo grego está aberto a que outras propostas surjam, que não sejam sempre neste mesmo caminho”, disse, sublinhando ainda que “rejeitou uma outra, de rejeitar o projeto europeu, porque a Europa pode ser outra coisa”.

Para Marisa Matias, porque “nunca colocaram a hipótese da saída do Euro, nem da União Europeia, mas antes lutaram por um projeto europeu que seja mais solidário e mais consistente”, os gregos dão “um sinal muito importante quer à Europa, quer a Portugal”, que está “numa situação muito semelhante à da Grécia”.

Artigos relacionados: 

Termos relacionados Internacional
Comentários (4)