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A utopia alcançável

Os carrascos do Governo têm feito um bom trabalho a aniquilar o país. Mas não tem que ser assim. A ditadura da austeridade é uma escolha ideológica que pode ser combatida, mas só se puder contar também contigo.

 

Andar na rua tornou-se uma verdadeira corrida de obstáculos. Os dias passam e o número de rostos que vemos habitar as entradas dos prédios – esses cada vez mais vazios – aumenta; os meses passam e a quantidade de famílias que encontramos a pedir ajuda cresce. Começa a tornar-se impossível - mesmo para quem tenta - escapar aos rostos da miséria provocados pela crise.

Faço parte daquela geração que olha para o futuro e não encontra luz ao fundo do túnel. Também essa já ficou muito cara, também essa já cortaram. Levaram-nos a essência da nossa espécie: a esperança.

Semana sim, semana não lá vem o Governo dizer que afinal os cortes vão ser mais mansos, que a economia até está a crescer, que é só mais este esforço final… Mas a realidade é bem diferente.

Andar na rua tornou-se uma verdadeira corrida de obstáculos porque existe um país a desmoronar, perto da ruína. Conheço poucos jovens que ainda considerem viável ficar em Portugal. Não me interpretem mal, este não é um qualquer discurso nacionalista sobre o direito a estar no seu país: nem sou grande fã de fronteiras. É, isso sim, um discurso sobre o direito ao futuro e querer construí-lo onde nos sentimos bem. Para muitos de nós, isso é aqui, em Portugal, onde está a família que ainda não foi obrigada a emigrar, onde estão os nossos amigos e as ruas e praças que conhecemos.

Bem sei que me vão tentar convencer que é comodismo não querer ir vender pipocas para outra qualquer cidade europeia, experienciar a “vida lá fora”, que é isso que me fará crescer enquanto pessoa e que fará com que as empresas valorizem o meu espírito empreendedor. Mas a vida não é um currículo: mudar de país deveria ser uma opção e não uma necessidade.

Os carrascos do Governo têm feito um bom trabalho a aniquilar o país. Aplicam mais austeridade, a economia ressente-se e a crise agrava-se. É um ciclo vicioso. Mas isso já sabias, certo? A austeridade veio para ficar. PS, PSD e CDS já deixaram isso claro. O Governo já o afirma descaradamente; António José Seguro também o vai dizendo timidamente (não quer estragar sondagens com afirmações brutas acerca da “austeridade light”).

Mas não tem que ser assim. A ditadura da austeridade é uma escolha ideológica que pode ser combatida, mas só se puder contar também contigo. Mudança não é palavra que se grite sozinho porque transformar a sociedade é torná-la mais justa para todos; só vivemos a democracia em pleno quando a exercemos.

Faço parte daquela geração a que gostam de chamar “utópica”. A utopia serve para caminhar, dizia Birri, mas o que me guia não é inalcançável. Derrubar este Governo, inverter a política de austeridade, renegociar a dívida, investir na criação de emprego, na educação e na cultura: tudo isto são metas reais.

Acima de tudo, nada disto é uma questão geracional. É uma escolha ideológica. É a escolha que leva a Esquerda a lutar pelas pessoas, pelo direito ao futuro e à luz ao fundo do túnel; lutar por mim, por ti e por todos aqueles que ainda não têm direito à voz. É o que nos leva a lutar pelo futuro que tenho a certeza ser possível alcançar.

Sobre o/a autor(a)

Estudante do Ensino Superior. Membro da Coordenadora Nacional de Estudantes do Bloco de Esquerda.
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