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Muita atenção à Alta Tensão

Segundo o projeto da REN, o concelho de Barcelos será atravessado por uma linha de muito alta tensão (400Kv, o dobro da normal em Portugal) e para tal será construído um corredor de torres de suporte e conexão da linha. Tudo isto seria aceitável não fora os problemas que acarreta.

 

Segundo o projeto da Rede Elétrica Nacional S.A. (REN), empresa privada que em 2013 teve um lucro de 121,3 milhões de euros, o nosso concelho será atravessado por uma linha de muito alta tensão (400Kv, o dobro da normal em Portugal) e para tal será construído um corredor de torres de suporte e conexão da linha (postes com altura de 80/85 metros e 200 m2 de implantação) criando-se um circuito ibérico de banda larga para transporte de energia. Tudo isto seria aceitável, ou pelo menos equacionável, não fora os problemas que acarreta. Em primeiro lugar é, no mínimo, discutível se precisamos desta auto-estrada de energia. Sinceramente, sem demagogia nem contrariedade leviana, penso que servirá muito mais o expansionismo comercial e a avidez lucrativa da empresa que por via da desastrosa privatização deixou de ter o serviço público como prioritário, do que para reverter em benefício do consumidor final. Mas mesmo que a REN, falaciosamente invoque este argumento e até clame pelo interesse de ligação à rede europeia de energia, o que se pode dizer é que não há nada contra, desde que sejam tomadas as prevenções e demandas tendentes a considerar sempre as pessoas em primeiro lugar.

Esta exigência terá que ser assegurada e até agora nada indicia que tal aconteça. A REN desenvolveu um estudo de impacto ambiental sem sequer prever alternativas às linhas aéreas sabendo-se que também se pode transportar a energia por canal subterrâneo, inclusive com muito melhores resultados quanto à diminuição de perdas ou, neste caso a localização geográfica permite, por cabo submarino. Mas como a empresa delineia um investimento de retorno rápido não admite alternativas que aumentem o custo de instalação mesmo que possam ser mais rentáveis em maior espaço temporal. As pessoas são relegadas para plano secundário. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o princípio da precaução, dizendo que há estudos científicos que apontam para uma relação direta entre a exposição prolongada às ondas eletromagnéticas emitidas por estas estruturas e uma maior ocorrência de casos clínicos graves, como por exemplo de leucemia, Alzheimer ou esclerose lateral amiotrófica.

No estudo de Impacto Ambiental nada disto está previsto nem estão atendidas as possíveis consequências nas atividades económico-sociais ligadas à terra - agricultura, pecuária, paisagem, turismo rural… Nem tão pouco é equacionada a desvalorização patrimonial, pessoal e colectiva, das propriedades localizadas no canal da linha, nomeadamente as habitações, os campos de cultivo, a monumentalidade, os cursos de água, as espécies arbóreas e animais.

Sabendo-se que Barcelos, dos 8 concelhos atravessados pela linha, é o mais afetado territorialmente e em número de fogos habitacionais, é premente criar resposta a este atentado. Está em causa o ambiente, a saúde, a propriedade e a economia local. Está em causa a qualidade de vida e estão em causa as pessoas. A Câmara Municipal, assertivamente, iniciou uma contestação judicial, mas é preciso ir mais longe nesta reivindicação e é urgente informar, sensibilizar e mobilizar as populações. Por isso, tal como já foi apresentado pelo Bloco de Barcelos, é imperioso alertar para a gravidade da situação e criar condições para envolver os cidadãos, mesmo aqueles que pensam não serem diretamente lesados. Apelo à formação de um movimento de cidadania, agregando população de todos os concelhos afetados, que possa constituir uma grande frente de luta popular capaz de entravar a continuidade deste calamitoso projeto. Pensar que não vale a pena e que já está tudo resolvido é engolir o isco de quem nos quer calar, é capitular perante a resignação. As causas movem-se nas lutas e só com luta se vencem as causas.

Artigo publicado no “Jornal de Barcelos”

Sobre o/a autor(a)

Professor. Dirigente do Bloco de Esquerda
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