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Há mar e mar
À esquerda do PS, existe em Portugal um campo político e social de que o geral dos comentadores, por conveniência ou descuido, costuma esquecer. No entanto, tendo em conta os resultados das eleições legislativas desde 1999 – ano em que nasceu o Bloco -, ele representa, no seu conjunto, entre 15 a 20% dos eleitores deste país e provavelmente bem mais do que isso no que respeita à luta popular contra as medidas de destruição do Estado Social hoje em curso. Ou seja, é uma força decisiva quer na resistência à atual ofensiva contra a democracia social e política, quer na construção de uma alternativa credível ao neoconservadorismo.
Não é de admirar que perante a violência e extensão da ofensiva em curso – efetivamente o que temos pela frente é um verdadeiro plano de subversão, uma contra-revolução por enquanto pacífica -, ou perante a generalizada capitulação das social-democracias europeias (a aliança de governo SPD-Merkel; a “viragem” do Sr. Hollande; as versões pastosas da “austeridade benévola” do PS de Seguro), é natural, dizia, que neste território da esquerda surjam dúvidas e diferenças acerca do caminho a seguir em tão complexa situação. O que me parece essencial é não perder o norte.
Assim sendo, ninguém pode estranhar que o Bloco de Esquerda, nos recentes encontros com promotores do Manifesto 3D, não tenha achado curial colocar-se na posição de andar a recolher assinaturas para constituir um novo partido com função de “envelope”, mas no qual os seus militantes nem sequer se poderiam inscrever (a dupla filiação partidária é ilegal), muito menos participar na sua direção. Também não se pode estranhar que o Bloco discorde de uma coligação com um projeto de partido que ocultaria divergências programáticas de substância, sobejamente conhecidas, e a pertença a espaços políticos opostos no plano europeu. Tudo para incluir agora quem escolheu afastar-se há bem pouco tempo. Não vejo como podem coexistir na mesma convergência os que defendem uma Europa federal e um governo europeu com os que, como o Bloco, recusam essa perspectiva em nome da democracia na Europa e da soberania dos estados.
A convergência à esquerda é um processo que há-de respeitar identidades e percursos. E que só pode assentar em princípios e compromissos claros e transparentes, desde logo para quem deposita expectativa e esperança na luta a que metemos ombros. Sem atropelar ninguém e sem enganar ninguém. Por isso mesmo é um processo que exige ponderação, respeito mútuo e persistência.
Eu acho que no Bloco se sabe bem que assim é. Que se sabe, com um saber de experiência feito, que nas condições atuais, à esquerda ninguém chega a bom porto ignorando as outras energias sociais e políticas em tensão. Pensar que se pode prescindir dessa concentração de esforços traduz-se, frequentemente, numa espécie de deriva sectária que, no fundo, oculta a demissão de apostar realmente na alteração das relações de força.
Por isso mesmo, o Bloco apresentou, nos referidos encontros, algumas propostas que me parecem sérias e equilibradas: se os promotores do Manifesto 3D se constituíssem como partido, o Bloco proporia uma coligação eleitoral com base na proximidade evidente de propostas programáticas de resposta à situação atual que entre as duas entidades existe; se esse movimento não optasse pela forma partidária, o Bloco estaria preparado para o considerar na sua autonomia específica e integrá-lo, como tal, nas suas listas eleitorais (uma vez que só partidos ou coligações podem concorrer às eleições europeias e legislativas).
Seja, como for, e mesmo que esse entendimento não seja atingível para as europeias, penso que é preciso continuar a persistir no rumo certo, com base em propostas e bases programáticas claras e comuns.
Haveria, então, de se trabalhar no sentido de uma plataforma política comum da esquerda solidária, sem constrangimentos eleitorais imediatos, aberta à adesão dos partidos, forças sociais ou personalidades que a ela quisessem aderir. E daí partir para o resto.
Lembrem-se de O’Neill: “Há mar e mar”. Nestes 40 anos de Abril acredito que havemos de ajudar a construir, com sabedoria e tenacidade, essa maré alta de esperança que reclamam os que hoje se vêm privados dela.
Artigo publicado no jornal “Público” em 30 de janeiro de 2014
Comments
Dr Fernando Rosas, gostaria
Dr Fernando Rosas, gostaria de expôr o meu caso pessoal com muita vergonha e angustia. pois já não sei a quem recorrer!estou em vias de perder a minha casa para o banco se não fizer alguma coisa.Pago IRS que não tenho, pois desde que retiraram das deduções a casa e respetivos seguros obrigatórios não mais pude viver vivo continuadamente com cartões de crédito, porque tenho vergonha,de andar a pedir ás instituições de caridade ,procuro trabalho em todo lado, mas os meus 57 anos já pesam ,como não recebo qualquer apoio social ,salvo uma pensão de sobrevivencia por viuves,não sou prioridade , contudo até 2008 resistia aos meus compromissos,daí para a frente tudo descambou !...eliminaram as deduções da casa no IRS, os seguros obrigatórios das mesmas, com a idade são muito altos mensalmente pago IRS do cartão de crédito ,IMI do cartão de crédito acumulando dívida todos os meses!... não sei mais o que fazer , será que toda a Esquerda em parlamento não se faz saber que há pessoas honestas e que não podem fugir aos impostos porque seu pecado foi comprar casa porque lhes deram condições ? e logo cinco anos depois lhe despiram apele?faça passar a mensagem ao parlamento sobre esta questão ,pois vejo que sobre este assunto ninguém fala ,porque acham que todos os pensionistas teem casa paga? continu-o a endividar-me para cumprir os meus deveres de cidadã com os impostos QUEM ME AJUDA P.F. obrigada,façam com que as casas e seguros respetivos voltem a ser deduzidos em IRS,enquanto outros ...são bonificados... não compreendo!um grito de socorro antes de ser mais um a perder seu teto para o banco nesse que já fiz de tudo para mudar a situação obrigada por ler este meu apelo alguém fale por nós indefesos .
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