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As férias de Passos Coelho

O congresso do PSD passa-se sempre numa realidade alternativa que nada condiz com a conjuntura social de crise em que vivemos.

Este fim-de-semana foi como aqueles dias de férias, longe de casa, em que, com a visão nostálgica da distância, os problemas parecem não existir na terra Natal. É sempre assim no congresso do PSD: passa-se sempre numa realidade alternativa que nada condiz com a conjuntura social de crise em que vivemos.

Passos Coelho é conhecido por não cumprir nenhuma das suas promessas eleitorais, bem sabemos, mas ontem colocou todas as utopias à prova ao anunciar o seu projeto de incentivo à natalidade. Diz não saber em que moldes, que não tem ainda nada definido, mas pretende inverter este ciclo em que o número de óbitos se sobrepõe largamente ao número de nascimentos.

Contra todas as notícias fabricadas a partir dos números manipulados pelo Governo, a verdade é que o desemprego real tem aumentado e a emigração atingiu números nunca antes vistos. Recentemente, ficámos também a saber que o número de casais em que ambos os cônjuges estão desempregados aumentou 2% no mês passado. Como é que é possível, num momento em que as previsões indicam uma diminuição do poder de compra, da qualidade de vida e o aumento do desemprego acreditar em projetos de incentivo à natalidade?

Em Portugal, observamos uma crescente precarização do emprego. Os contratos são cada vez mais instáveis e curtos, o despedimento é facilitado de ano para ano, o salário vale cada vez menos e espera-se a sua diminuição em nome da “competitividade do mercado”. Nada disto é coerente com a ideia de criar um país ideal para educar filhos.

A um ano das eleições legislativas, esta é apenas uma manobra para iludir os portugueses, criando a imagem de um país a sair da crise, a recuperar as forças. Usa esta manobra ao mesmo tempo que procura culpar a oposição por não ser capaz de encontrar um consenso e, com isso, obrigar o atual governo a recorrer ao “programa cautelar”. A Direita quer manter Portugal sob a alçada da Troika para, dessa forma, poder manter programas austeritários que enriquecem a burguesia, engordam a banca e despem os portugueses dos seus direitos mais básicos. Não existe consenso possível com uma Direita de mentiras, que apoia a alta finança em detrimento das pessoas.

Mas há uma questão que fica absolutamente clara com este discurso de Passos Coelho: o conservadorismo do PSD veio para ficar. Numa altura em que viu chumbado pelo Tribunal Constitucional a sua proposta de referendo à adoção homossexual, surge com um novo plano pela defesa da família tradicional.

A taxa de natalidade em Portugal só vai aumentar quando os futuros pais e mães sentirem segurança no futuro. Só existe futuro em Portugal quando expulsarmos a Troika do país. A economia só poderá florir quando acabarmos com a austeridade – seja ela light ou não.

Não tive direito a férias. A nostalgia que me assola é a que me remete para um país cada vez mais em ruínas. Mas há em mim, em nós, em toda a Esquerda, a chama da utopia que sabemos poder ser real, porque as pessoas são reais.

Há em mim, em nós, em toda a Esquerda a força da luta que nos transporta para o futuro onde venceremos, onde a dignidade de cada cidadão e cidadã será respeitada.

Não tive direito a férias porque a luta nunca dorme.

Sobre o/a autor(a)

Estudante do Ensino Superior. Membro da Coordenadora Nacional de Estudantes do Bloco de Esquerda.
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