Pedro Filipe Soares

Pedro Filipe Soares

Deputado, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, matemático.

Às portas da União Europeia, na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia, cresce um dos infernos na Terra.

É muito mau o sinal dado pelo Governo português ao não comparecer à chamada mundial pelo clima, sendo Portugal o país europeu mais ameaçado pela subida do nível médio do mar e dos que mais sofrerão pelo risco de incêndio. Acaba por legitimar as ausências dos chefes de governo de países poluidores.

Quem virou as costas ao diálogo foi António Costa quando se deixou dominar pelo sonho da maioria absoluta.

Muitas das reticências e desacordos entre o Governo e os partidos à esquerda radicam na submissão a uma agenda que não tem legitimidade democrática nem legal.

A proposta de OE2022 é má porque falha em respostas essenciais para corrigir problemas estruturais do país. Podia o Governo fazer diferente? Podia, bastava perceber que quem não está em maioria tem de ter disponibilidade para dialogar.

O Governo recusa-se a desfazer os nós que a troika deixou na legislação laboral: desprotegeu trabalhadores e a contratação coletiva, embarateceu despedimentos e promoveu a precariedade. É caso para perguntar: nas questões laborais há PS para além da troika?

O Fundo Ambiental, peça fundamental para as transformações na economia que nos ajudem a combater as alterações climáticas, está a ser esvaziado para encher os cofres de EDP e companhia. É um saque.

O objetivo é sempre semear a desconfiança e incentivar as clivagens na sociedade até que apareça uma qualquer figura providencial, um salvador. Semear o caos para depois vender a ordem e justificar o autoritarismo.

É urgente não falhar novamente ao povo afegão, retirar e acolher os refugiados do país e usar todos os mecanismos internacionais para exigir às diversas potências que não façam parte desta noite negra no Afeganistão.

Insistir que será o mercado a resolver os problemas que criou, como o caso do comércio de carbono, é premiar os grandes poluidores e agravar preços aos mais carenciados. Basear a resposta ao caos climático em estratégias de fiscalidade verde é insuficiente e um erro repetido.