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Simulacro

Sobre a nova liderança do PSD importa focar três pontos: a coesão, o liberalismo e a novidade. 1. Sobre a novidade: não há grande originalidade nas poucas propostas concretas que foram avançadas até agora, o que há é bastante disparate. O senso comum, ainda para mais numa altura que escândalos como, por exemplo, o da negociata em torno da TVI e da traficância no seio do BCP, ainda estão bem vivos na memória de toda a gente, obriga a que não se considere a ideia da privatização da CGD e da RTP enquanto uma ideia séria. Da mesma forma que a tese de que aquilo que o país precisa é de uma revisão constitucional também não convence ninguém. Não convence porque os portugueses sabem que é não discussões esotéricas a propósito da constituição, e do novo regime eleitoral que o PSD quer que ela inaugure, que problemas como a desigualdade, a pobreza e o desemprego se resolvem. E esses são os problemas fundamentais do país. Problemas para os quais continua, ontem com Ferreira Leite e hoje com Passos Coelho, sem resposta. 2. Sobre o liberalismo: não há grande diferença entre a apologia da mercadorização dos serviços públicos que o PSD faz e a prática dessa mesma mercadorização que tem vindo a fazer o PS. Veja-se o PEC. Cortar despesa na saúde e na educação como tem vindo a fazer o PS não é substancialmente diferente do que quer o PSD que é reduzir o peso do Estado no SNS e na escola pública. Ambos anunciam serviços públicos em que os conceitos de universalidade e de qualidade se deterioram, logo, ainda para mais no contexto de crise aguda que se vive, são também sinónimo de mais desigualdade social. Também na questão do emprego este paralelismo é evidente. O PS quer reduzir o subsídio de desemprego abaixo do salário mínimo nacional, o PSD quer fazer o subsídio de desemprego depender da ocorrência prestação de um tributo solidário. No conjunto, a visão liberal do PSD de Passos Coelho não é muito mais do que uma leitura um tanto quanto exacerbada das medidas de austeridade que o PEC do PS anuncia, ambos se entretêm a querer reduzir salários e reduzir subsídios sociais, porque na verdade, nem outro têm, têm uma solução concreta, em termos de opções de política económica, que se propunha a alterar o fracassado modelo de desenvolvimento do país. 3. Sobre a coesão: não há grande unidade para além daquela de que começa a cheirar a algum poder. O PSD parece acreditar na teoria de que Sócrates definhará por si só, vítima do seu próprio narcisismo e dos seus próprios erros, e que depois disso o rotativismo tratará de entronizar Passos Coelho enquanto primeiro-ministro. O erro do PSD, e em certa medida o erro do PS, é subestimarem esse sentimento de justiça social e essa necessidade de democracia económica que grassa cada vez mais pelo país real. O país que sente na pele a crise económica e social e que sabe que respostas de que precisa surgirão à esquerda.

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