You are here

Cuidados paliativos: Direitos humanos em fim de vida

É prioritário investir na formação diferenciada em cuidados paliativos dos profissionais de saúde e criar novas unidades de apoio ao internamento paliativo na comunidade que permitam o controlo de sintomas e prevenção de complicações, aliviando o sofrimento, permitindo assim cuidados personalizados e de proximidade. Por Gisela Almeida, Enfermeira Especialista, Instituto Português de Oncologia, Coimbra

 

Desde a sua criação, os Cuidados Paliativos foram definidos pela Organização Mundial de Saúde em 1990, e redefinidos em 2002, como uma abordagem que aprimora a qualidade de vida, dos pacientes e famílias que enfrentam problemas associados com doenças, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor, e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual.

Passadas duas décadas, as necessidades percepcionadas na prática clínica demonstram a necessidade de maior articulação entre as unidades hospitalares e as unidades de prestação de cuidados na comunidade. O estatuto do cuidador informal foi uma conquista positiva, contudo não pode permanecer sob a égide burocrática, o seu acesso tem de ser simplificado, e para além do apoio sócio-económico tem de acautelar a componente de formação para o cuidar e para ao auto-cuidado, reforçando políticas de bem-estar e saúde mental.

Deste modo, se mais unidades de cuidados paliativos domiciliários forem implantadas a nível nacional, mais fácil será desenvolver políticas promotoras do cuidar paliativo no domicílio, promovendo o suporte clínico para uma morte digna no domicílio, no caso das famílias e utentes que assim o pretenderem.

É prioritário investir na formação diferenciada em cuidados paliativos dos profissionais de saúde e criar novas unidades de apoio ao internamento paliativo na comunidade que permitam o controlo de sintomas e prevenção de complicações, aliviando o sofrimento, permitindo assim cuidados personalizados e de proximidade. Podemos facilmente perceber que as medidas anteriormente destacadas permitem diminuir a procura dos serviços de urgência, que como sabemos e reconhecemos, e como os doentes e suas famílias reconhecem, por melhores que sejam, não são a melhor resposta, uma vez que não permitem oferecer cuidados diferenciados ao doente paliativo.

Em Portugal, os números continuam a elucidar a premência do desenvolvimento de políticas de saúde e governação clínica ajustadas à realidade e às necessidades inerentes ao cuidar paliativo. Assim, segundo o Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos de 2021-2022, existem entre 81,5 e 97 mil pessoas com necessidades de cuidados paliativos, um aumento ligeiro relativamente aos biénios anteriores, consistente com o envelhecimento populacional e com a previsibilidade de necessidades paliativas na população idosa, independentemente até do aumento paralelo da doença crónica.

Em relação à estimativa do número de crianças com necessidades paliativas, tendo por base o estudo de 2015 do Observatório Português de Cuidados Paliativos, a prevalência de base hospitalar de crianças com doença crónica complexa foi de 45 por cada 10.000 crianças. São números que devem ser estudados, assim como devem ser conhecidos os determinantes sociais e de saúde destas populações para que a resposta possa ser planeada e implementada tendo em consideração as necessidades efetivas e o ajustamento das respostas de cuidados diferenciados. As ações paliativas devem integrar a prática profissional, qualquer que seja a doença ou a fase da sua evolução, com o objetivo de fazer chegar Cuidados Paliativos de qualidade a todas as pessoas portadoras, em fase avançada ou progressiva, de doença grave ou incurável.

O Plano Estratégico para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos de 2017-2018 deu início à implementação de uma Rede Nacional de Cuidados Paliativos (RNCP) funcional, integrada nos três níveis de cuidados do Serviço Nacional de Saúde, os Cuidados de Saúde Primários, os Cuidados de Saúde Hospitalares e os Cuidados Continuados Integrados. Consideramos que existe a necessidade de formação em cuidados paliativos aos profissionais que fazem parte das unidades da RNCP, assim como também não pode ser esquecido o estudo das necessidades em matéria de cuidados paliativos sob a pena de as pessoas ficarem sem acesso aos cuidados diferenciados.

Estamos conscientes de que não se trata de soluções fáceis de operar no terreno mas todos temos responsabilidade cívica e profissional para discutir, propor e ajudar a definir melhores políticas e soluções promotoras do desenvolvimento da rede nacional de cuidados paliativos, uma rede que queremos justa, coesa, solidária, equitativa e de fácil acesso para as pessoas e suas famílias. Pela defesa dos direitos humanos em fim de vida, pelos doentes e pelas suas famílias, SEMPRE!

(...)

Esquerda Saúde 2

Revista Esquerda Saúde nº2

31 de May

A edição de junho de 2022 já está disponível online e traz em destaque um dossier sobre investigação em saúde. Leia aqui a revista em formato pdf.

Editorial: Já está na altura de dignificar o trabalho médico?

31 de May

Horas extra, precariedade, perda de salário e uma pandemia. Numa profissão que defende a humanização dos cuidados de saúde, não é compreensível que quem presta cuidados o faça sob condições desumanas. Por Tânia Russo, médica no Hospital Amadora-Sintra, dirigente sindical e deputada municipal em Sintra

EUA: O triunfo do conservadorismo contra as decisões das mulheres

31 de May

O país encontra-se dividido entre os estados que permitem livremente o acesso ao aborto nas condições da lei (até às 24 semanas de gestação) aceitando mesmo mulheres de outros estados, e os que reduzem drasticamente as condições da lei, com sistemáticas represálias em relação aos profissionais de saúde que colaboram na prática de aborto.  Por Ana Campos, médica obstetra

 

“Das pessoas trans que recorreram ao SNS, mais de metade sofreu discriminação”

31 de May

Entrevista a Jo Rodrigues, presidente da Anémona, uma associação de profissionais de saúde e seus aliados criada para aproximar os serviços de saúde das pessoas transgénero e não-binárias e combater a transfobia.

 

Hayek, Pinochet e os social-liberais entram num bar…

31 de May

No Chile, a ‘reforma’ liberal é cara e ineficiente. Custa 7% do salário aos utentes, canaliza 50% dos recursos para 20% da população e os ganhos em saúde são alcançados pela resposta pública e não pela privada. Por Moisés Ferreira, dirigente do Bloco de Esquerda

O negócio vai bem (a Saúde nem por isso)

31 de May

A faturação e os lucros dos grupos privados da saúde não pára de aumentar. Estes lucros crescentes não impedem que estas empresas sejam conhecidas por más práticas laborais. Por Maria Ribeiro, enfermeira emigrada na Bélgica

 

Inovação em Saúde: Importância da investigação clínica e de translação

31 de May

A investigação clínica e de translação visa melhorar os cuidados de saúde e os prognósticos dos pacientes. É essencial para a melhoria do bem-estar das populações e deve estar ao alcance de todos. Por Maria João Carvalho, Investigadora do Instituto de Biomedicina, Departamento de Ciências Médicas da Universidade de Aveiro.

 

O papel do mercado no desenvolvimento de vacinas: Fonte de avanços ou força de bloqueios?

31 de May

Parto para esta reflexão com base em dois exemplos muito concretos: o das vacinas de mRNA contra a COVID-19, que todos conhecemos, e o de uma vacina contra a malária, o principal foco de vários anos da minha investigação científica. Por Miguel Prudêncio, investigador principal do Instituto de Medicina molecular

Quem deve financiar a ciência?

31 de May

Sem financiamento público, a investigação básica não fica assegurada. Sendo esta  investigação fundamental para o avanço do conhecimento, mesmo a investigação mais  aplicada fica em sérios riscos a longo-prazo sem um sério investimento a montante.  Por Ana Isabel Silva, investigadora em Ciências da Saúde no i3S.

Eutanásia: Uma lei contra a prepotência

31 de May

As iniciativas dos partidos proponentes da despenalização, já entregues ou anunciadas, mostram que a Assembleia da República manterá o registo de responsabilidade e de tolerância que imprimiu a todo o processo anterior. Por José Manuel Pureza, dirigente do Bloco de Esquerda.

Cuidados paliativos: Direitos humanos em fim de vida

31 de May

É prioritário investir na formação diferenciada em cuidados paliativos dos profissionais de saúde e criar novas unidades de apoio ao internamento paliativo na comunidade que permitam o controlo de sintomas e prevenção de complicações, aliviando o sofrimento, permitindo assim cuidados personalizados e de proximidade. Por Gisela Almeida, Enfermeira Especialista, Instituto Português de Oncologia, Coimbra

 

Acolher e cuidar dos refugiados

31 de May

Embora a lei determine que o refugiado tem direito a cuidados de saúde no SNS, quem está nos serviços de saúde conhece bem que nem sempre são dadas as respostas céleres e adequadas aos refugiados que a eles recorrem. Por Sónia Pinto, enfermeira de família.

Açores: Para os profissionais de saúde, uma salva de… precariedade!

31 de May

É verdade que o reforço de meios humanos foi necessário para o combate à pandemia, mas também o é para o normal funcionamento e recuperação de toda a atividade assistencial. Por Jéssica Pacheco, enfermeira, Açores.

Transformar o SNS, a agenda de um encontro à esquerda

31 de May

Realizou-se a 21 de Maio o Encontro Nacional Sobre Saúde do Bloco de Esquerda, em Lisboa. Foram vários os contributos para o debate e destacamos aqui algumas breves passagens de cada um.

Revisão da literatura – a legalização da canábis aumenta o consumo entre os jovens?

31 de May

Uruguai e Canadá legalizaram a canábis recretiva em 2013 e 2018, respetivamente. Dois estudos recentes sobre o consumo recreativo oferecem-nos uma visão sobre o que pode ser a realidade após a legalização. Por Bruno Maia, médico.