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Há 70 anos: “Deuses e Demónios da Medicina”, de Fernando Namora
Poeta, ficcionista, ensaísta e pintor, Fernando Namora integrou a “geração de 40” - grupo literário que reuniu personalidades como Carlos de Oliveira, João José Cochofel, Joaquim Namorado, Mário Dionísio, Alves Redol, Manuel da Fonseca, Vergílio Ferreira ou Soeiro Pereira Gomes.
Nascido em Condeixa, em 15 de abril de 1919, licenciou-se em Medicina na Universidade de Coimbra em 1942 e morreu em Lisboa, em 31 de janeiro de 1989.
A sua prática clínica desenvolveu-se primeiro na sua terra natal para depois rumar à Beira Baixa e Alentejo - Tinalhas, Monsanto e Pavia - até que, em 1951, se fixou em Lisboa, onde ainda muito jovem já frequentara o Liceu Camões, agora para integrar o quadro clínico do Instituto Português de Oncologia. Em 1965, abandonou a medicina para se dedicar por inteiro à literatura.
A sua obra é a síntese de vivências em ambientes tão diversos como o meio universitário e as tertúlias da Coimbra dos anos 40, do médico de província que soube interpretar o pulsar popular - camponeses, mineiros, vagabundos… -, que é a base antropológica e social das mais fortes personagens das suas ficções dessa época. Mais tarde, também a vida na grande urbe e no mundo o moldou como homem e escritor, sempre em paralelo com o exercício da medicina.
Num período mais tardio ensaiou incursões que reestruturam o movimento que fundou, superando impasses e margens em que se confinara.
É da sua autoria o livro “Deuses e Demónios da Medicina” (1952), que assim é comentado por Manuel Sobrinho Simões: “É notável, voltar a ler o livro Deuses e Demónios da Medicina à luz das perplexidades que a chamada «medicina da precisão» introduz em todos os aspetos da arte/profissão médica. Quer se queira quer não, o atual exercício da Medicina moderna afasta-nos do ser humano enquanto sujeito da vida relacional e da saúde, por mais informação e tecnologia que estejam à nossa disposição.”
“Deuses e Demónios da Medicina” é um conjunto de 23 biografias romanceadas das mais destacadas personalidades do mundo singular da medicina, que ao longo dos tempos não raramente ensaiou a magia, o misticismo e a crença.
Os 23 eleitos foram Hipócrates, Galeno, Avicena, Paracelso, Vesálio, Ambroise, Paré, Harvey, Sydenham, Ribeiro Sanches, John Hunter, Mesmer, Jenner, Laennec, Claude Bernard, Virchow, Lister, Koch, Pavlov, Ramón y Cajal, Freud, Oswaldo Cruz e Alexandre Fleming.
Mas o livro é sobretudo uma incursão ao significado, peripécias e derivas da própria medicina que, na síntese e contraditório das suas crenças e repulsas, adquiriu a extraordinária relevância que hoje ocupa na vida e expectativas dos humanos. Obra metodicamente concebida e equilibrada, em linha com as imposições da cronologia e do rigor, exposta numa linguagem clara, obra de grande fôlego, de informação e de recreio, “Deuses e Demónios da Medicina” é mais um título imperdível da extensa obra de Fernando Namora.
Sobre o/a autor(a)
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