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25 de Abril sempre

Vistos em perspetiva, os 48 anos menos 33 dias da “longa noite fascista” foram uma eternidade comparados com o fervilhar da vida em democracia e o turbilhão de acontecimentos dos últimos 48 anos.

Na próxima segunda-feira comemoramos na rua o 48.º aniversário do 25 de Abril, o primeiro em que o regime democrático ultrapassou em longevidade a ditadura fascista de Salazar e Caetano. Pode parecer coisa pouca, mas é a realização dum sonho dos obreiros da “revolução dos cravos”, alguns dos quais já nos deixaram, como Salgueiro Maia e Otelo Saraiva de Carvalho.

Vistos em perspetiva, os 48 anos menos 33 dias da “longa noite fascista” foram uma eternidade comparados com o fervilhar da vida em democracia e o turbilhão de acontecimentos dos últimos 48 anos. Só para citar os mais importantes: o fim do império e a independência das colónias; a aprovação da Constituição, em 2 de Abril de 1976, seguida das primeiras eleições legislativas e autárquicas em liberdade; as conquistas de Abril, umas mais perenes do que outras; as “visitas” do FMI e a adesão à CEE, em 1986; a epopeia da libertação do povo mauberee a independência de Timor-Leste, em 1999; a crise financeira de 2008 e os anos de chumbo da “troika”; os escândalos do BPN, BES e outras patifarias; o novo ciclo aberto pela “geringonça” e a pandemia; arecente e desgraçada guerra na Europa, com a invasão da Ucrânia pelas tropas russas.

Quase todos estes acontecimentos dividiram profundamente a sociedade, agradando mais a uns do que a outros, com exceção do apoio unânime à causa de Timor-Leste. Estas divisões, mais à esquerda ou mais à direita, não são prova de fraqueza mas sim da força e da superioridade da democracia. Conflitos abertos e profundos foram resolvidos seguindo a máxima de Abril: o povo é quem mais ordena. Em ditadura os conflitos não desaparecem, mesmo abafados pela censura, pela repressão, pela tortura e assassinato de milhares de pessoas – Catarina Eufémia, heroína do Alentejo, não foi uma exceção.

Neste Abril, a desconfinar de dois anos de pandemia, cito Sérgio Godinho e deixo alguns votos.

“Só há Liberdade a sério quando houveraPaz, o Pão, Habitação, Saúde, Educação…”

Votos em defesa da Liberdade amordaçada em muitos países e alvo das forças neofascistas; pela Paz na Ucrânia e em todo o mundo, contra a corrida armamentista para o abismo; pelonosso Pão, comido pela inflação; pelo direito à Habitação ameaçado pela especulação imobiliária e inacessível a jovens; pela defesa do SNS e da Escola Pública, pilares do Estado Social.

Votos de Abril também na luta contra as alterações climáticas, por uma agricultura sustentável num Alentejo livre do latifúndio e das culturas superintensivas que destroem o meio ambiente e promovem o trabalho escravo, em nome do lucro máximo e imediato.

Votos pela igualdade e pela fraternidade, contra as desigualdades crescentes e todas as formas de violência e discriminação baseadas na cor da pele ou na etnia, no género ou na orientação sexual, contra o racismo e xenofobia.

“Viemos com o peso do passado e da semente, esperar tantos anos torna tudo mais urgente e a sede de uma espera só se estanca na torrente”.

Só há liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir, quando pertencer ao povo o que o povo produzir”.

Abril é todo um programa de luta no presente e para os próximos 50 anos.

Artigo publicado em Radio Pax a 21 de abril de 2022

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda
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