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Editorial: Romper com o atavismo na saúde

A revista “Esquerda Saúde” é um espaço amplo de reflexão sobre a saúde, o Serviço Nacional de Saúde, os seus profissionais, a sua organização. Por Mário André Macedo e Bruno Maia.

A saúde não é despesa, é investimento para o bem comum da sociedade. Pessoas saudáveis são mais felizes, produzem mais e vivem uma vida longa com qualidade. A política de austeridade deixou marcas no sector que perduram até hoje. O desinvestimento na saúde, especificamente no SNS e nos seus profissionais, transformou de forma negativa e permanente a saúde em Portugal. O governo 2015-2019, vulgarmente conhecido como gerigonça, inverteu a tendência, mas não foi suficiente. O problema de desestruturar sistemas e organizações complexas como o SNS é que o esforço e recursos necessários para as recuperar é sempre muito superior ao que seria utilizado caso não tivessem sido erodidas. A perspetiva presente de uma nova onda inflacionária, impulsionada pela guerra na Ucrânia, traz consigo a ameaça de uma nova vaga de austeridade imposta a partir do diretório europeu que, para o SNS, poderia ser fatal.

A ideia de um SNS regido por uma lógica de mercado, em que se elogia uma gestão privada ou uma gestão pública regida por princípios de gestão privada, tem feito escola nas últimas décadas. Precarizar os profissionais de saúde, diminuindo o seu salário e negando-lhes uma carreira, e glorificar cortes de despesa, impedindo investimentos necessários tem sido o centro desta ideia. A recente campanha eleitoral para as legislativas veio introduzir na discussão pública maior agressividade contra o SNS, ora disfarçada de propostas populistas como a “ADSE para todos”, ora camuflada com medidas ditas temporárias como o aumento das convenções com o privado. Todas com o objetivo de retratar o SNS como insuficiente e incapaz e o setor privado como o “salvador” da Saúde em Portugal. Nesta edição da revista pretendemos mostrar como as propostas de um seguro de saúde público não têm vantagens, nem económicas nem de saúde, sobre o sistema português, usamos o exemplo da Holanda e explicamos porque razão avaliações puramente economicistas, como aquelas que faz o Tribunal de Contas, não servem porque não mostram toda a realidade sobre a saúde do país.

O progressivo alinhamento das políticas públicas em saúde com as teses neoliberais, provocaram um desnatamento dos serviços públicos, tornando-os vulneráveis na resposta não só à pandemia, como às restantes necessidades em saúde da população. Pensar a saúde para o século XXI implica romper com as conceções atávicas e demonstradamente ineficazes da gestão do serviço público de saúde como uma empresa, construindo um novo compromisso para a gestão pública, assente em democracia, participação e autonomia.

A revista “Esquerda Saúde” é um espaço amplo de reflexão sobre a saúde, o Serviço Nacional de Saúde, os seus profissionais, a sua organização. Amplo porque procura coligir olhares sobre a saúde para além das visões dos que “estão dentro da área”. Amplo porque procura dentro e fora do Bloco de Esquerda contributos e alinhamentos para a construção de um serviço público completo e de qualidade. Esperamos que este contributo que vos apresentamos seja mais um passo neste complexo combate por um mundo mais igual e saudável.

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Esquerda Saúde 1

Revista Esquerda Saúde nº1

24 de March

Leia aqui em formato pdf o primeiro número da revista online "Esquerda Saúde". Todos os artigos e outros conteúdos sobre o tema estão disponíveis na página Esquerda Saúde.

Editorial: Romper com o atavismo na saúde

24 de March

A revista “Esquerda Saúde” é um espaço amplo de reflexão sobre a saúde, o Serviço Nacional de Saúde, os seus profissionais, a sua organização. Por Mário André Macedo e Bruno Maia.

Pedro Morgado

Pedro Morgado: "A precariedade no trabalho é um catalisador de problemas de saúde mental"

24 de March

Nesta entrevista, o médico psiquiatra Pedro Morgado fala sobre as dificuldades de se fazer investigação em Portugal e na implementação do Plano Nacional de Saúde Mental, do impacto da pandemia em diferentes populações vulneráveis ou das novas formas de organização do trabalho e a sua relação com a saúde mental. Entrevista conduzida por Bruno Maia.

Tribunal de Contas. Foto de Mário Cruz/Lusa

Erros do relatório do Tribunal de Contas

24 de March

A conclusão que a gestão PPP poupou quase 200 milhões de euros ao estado, é errada, por uma simples razão, a metodologia utilizada não permite afirmar que o estado poupou globalmente dinheiro, apenas que os hospitais gastaram menos que os outros do seu grupo comparável. Dito de outra forma, poupanças de um hospital PPP serão gastos do hospital vizinho EPE. Por Mário André Macedo.

Seguros de saúde privados como modelo de saúde? É melhor não ir por aí

24 de March

O farol do capitalismo pouco alumia quando falamos de ganhos em saúde, ainda que possa ser uma torrente de luz se se quiser falar de ganhos à custa da saúde. De facto, gastar tanto, obrigar os utentes a gastar tanto, para ter tão pouco só pode deixar contentes as seguradoras e os seus acionistas. Por Moisés Ferreira.

Vacinação. Foto sanofi/Flickr

Como a CIA hipotecou as hipóteses de erradicar a Poliomielite

24 de March

Graças às suspeitas levantadas por uma operação de vacinação falsa da CIA para tentar apanhar Bin Laden, revelada em 2011, os dois únicos países com circulação endémica do vírus selvagem da poliomielite são o Paquistão e Afeganistão. Por Mário André Macedo.

Comentário ao livro: "O sistema de saúde no Estado Novo de Salazar"

24 de March

O livro de Andreia da Silva Almeida foi o vencedor do Prémio António Arnaut e é uma investigação histórica sobre a criação do Ministério da Saúde e dos debates sobre o sistema de saúde que atravessaram grande parte do período da ditadura. Por Bruno Maia.

Acesso e direito à saúde

24 de March

Assente sobre o seu cariz público e universal e dada a grande resiliência dos seus profissionais, o SNS sobreviveu aos ataques políticos, aos vários cortes, aos gigantes desvios orçamentais para o sector privado e até à derradeira pressão pandémica. Por Nuno Malafaia.

Foto Sindepor/Facebook

Morrer não é uma opção! - A importância do associativismo sindical

24 de March

Entrámos num círculo vicioso. Os sindicatos são condenados por pedirem aumentos salariais e melhorias das condições de trabalho, supostamente colocando o país em esforço financeiro. O país fica numa posição ainda mais precária, ao ver mão-de-obra extremamente qualificada optar por emigrar para países que valorizam e dignificam os seus trabalhadores. Por Luís Mós.

Imagem Freepik

A necessidade de falar em “Erros”

24 de March

Muitos dos desafios para o sistema de saúde residem na identificação de erros e eventos adversos, podendo este processo minimizar a sua incidência e aumentar a segurança do doente. Por Joana Baltasar.

Os sistemas de saúde “Bismarckianos” são melhores do que o nosso?

24 de March

As comparações apontam que as diferenças de resultados entre os países europeus não se deve ao tipo de sistema adoptado mas sim a diferenças organizacionais e de financiamento entre cada país. Por Bruno Maia.

Foto de Ana Mendes

A Paz é a solução

24 de March

O apelo à paz não deve estar dissociado de um julgamento moral: foi a Rússia que agrediu e atacou o seu vizinho. O apelo à paz deve estar associado ao pedido para que as forças russas cessem imediatamente o seu ataque e recuem para o seu território. Por Mário André Macedo.

Foto de Paulete Matos

Há 10 anos foi assim...

24 de March

Em abril de 2012, o "Abraço à MAC" foi uma mobilização de profissionais e utentes da Maternidade Alfredo da Costa que conseguiu derrotar a intenção de encerrar o local por parte do Governo PSD/CDS.