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Um dia negro na história

O apoio humanitário, a imposição de sanções à Rússia e o apoio direto à Ucrânia para que resista à invasão não têm que significar a expansão e colocação de mais armas no leste europeu. A escalada militar não fará a Rússia retirar, pelo contrário.

A invasão da Ucrânia pela Rússia que neste momento decorre é um ato ignóbil que merece completa e frontal condenação. Putin ultrapassou todas as marcas ao decidir por uma invasão total de um país vizinho.

A invasão de um país soberano na Europa era algo que poucos considerariam provável. No entanto, a história não terminou - ao contrário do que em tempos de forma arrogante se vaticinou - e este episódio deixará marcas seculares.

O nacionalismo de Putin e o seu pensamento imperialista ultrapassaram todas as marcas. Nada pode justificar uma tão flagrante violação do direito internacional. Se é verdade que a expansão da NATO para leste só acicatou o nacionalismo russo, isso não pode servir de desculpa nem justificação para a guerra.

Na última semana Putin e o seu regime perderam aliados de peso na Europa. Perderam o apoio dos líderes da extrema-direita europeia, como Marine Le Pen, do Reagrupamento Nacional (Antiga Frente Nacional) e Salvini da Liga Norte, que agora renegam o aspirante a czar russo. Recordo que, em 2014, Le Pen recebeu um empréstimo do Banco de Moscovo, afirmando que “já há muito tempo” defendia “uma linha pró-russa”. Em Portugal, o aliado de Le Pen e Salvini é Ventura e o Chega.

É assim o nacionalismo e o de Putin não é diferente: conduzirá à guerra e as alianças entre nacionalistas de diferentes países caem perante a contradição do confronto.

As consequências da guerra começam na morte, na destruição e na fuga de milhares pessoas. A solidariedade com o povo ucraniano deve ser a primeira prioridade. O acolhimento das centenas de milhares de refugiados é a mais significativa medida que qualquer estado pode tomar. Acolher quem foge da guerra é obrigação de todos. Desta e de todas as guerras.

Felizmente, a Europa abriu as suas portas aos refugiados ucranianos, o que é uma mudança face à política de construção de muros e cercas para impedir a entrada na Europa de refugiados do Médio Oriente e de África que vários países da UE desenvolveram.

São fundamentais as sanções económicas à Rússia, principalmente aquelas que mais afetam a oligarquia que suporta Putin. Mas não posso deixar de pensar nas consequências, que devem ser mitigadas, para o povo russo, principalmente o que vive na pobreza. Não foi em seu nome que Putin decidiu invadir o país vizinho. O imperialismo nunca serviu os povos, que são peões no xadrez dos jogos de poder das grandes potências.

As imagens da guerra em direto são um murro no estômago e não haverá ninguém que não se revolte com o drama humanitário e com a crueldade da guerra.

É preciso que essa revolta se traduza em apoio ao povo ucraniano e que não se transforme numa imparável escalada belicista. O estacionamento de tropas da NATO às portas do conflito, com o pretexto da dissuasão, leva apenas ao agravamento da tensão no local, que já é um barril de pólvora.

O apoio humanitário, a imposição de sanções à Rússia e o apoio direto à Ucrânia para que resista à invasão não têm que significar a expansão e colocação de mais armas no leste europeu. A escalada militar não fará a Rússia retirar, pelo contrário.

Nesta guerra o único lado que merece apoio sem reservas é o do povo ucraniano. É com esse fim e num caminho para a paz que a Europa se deve focar.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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