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Jerónimo e Ferreira

Jerónimo de Sousa lidera o PCP, encabeça a sua lista eleitoral e será a sua voz. É por isso estranho que se recuse a participar na maior parte dos debates televisivos das eleições.

É demasiado evidente que a vida do PCP é pouco conhecida, na medida em que este partido reclama e impõe o seu direito absoluto de estabelecer e seguir as suas próprias regras de modo reservado. Por isso, tem sido abusiva, e quantas vezes despropositada, a especulação sobre o tempo ou o modo da sucessão de Jerónimo de Sousa à frente daquele partido. É também óbvio que João Ferreira, candidato repetido a eleições europeias e recentemente a presidenciais, tem sido deste modo apresentado como um porta-voz reforçado em campanhas de relevo e que essa escolha sugere, mas não determina, uma alternativa futura. E por aqui se fica o que é sabido, pelo que não é do domínio público se, quando e como será definida uma futura direção do partido. É natural que assim seja. O que é certo é que Jerónimo de Sousa lidera o PCP, encabeça a sua lista eleitoral e será a sua voz.

É por isso estranho que se recuse a participar na maior parte dos debates televisivos das eleições. O argumento, repete o de 2019, o secretário-geral só discute em canal aberto, portanto com Costa e Rio, e recusa todos os outros frente a frente em canal de cabo. Protesta assim contra a dualidade de critérios aplicados pelas televisões na seleção dos debates. Mas há dois problemas com este argumento. O primeiro é que essa opção representou um desastre há dois anos, deixando aquele partido fora de parte da contenda. Quem não vai à luta, mesmo que em circunstâncias difíceis (e quando é que são fáceis?), não está na luta. O segundo é pior: é que João Ferreira, há um ano, seguiu outro critério e foi a todos os debates, em generalista e em cabo. Também aí havia discriminação, mesmo que de modo diferente: Marcelo fazia todos os debates em generalista, com a única exceção, ao que me lembre, da conversa com Tino. As candidaturas tinham estatuto diferente. E, mesmo assim, Ferreira foi a todas. Que Jerónimo de Sousa não faça o mesmo é uma diferenciação que não merece e vai ter algum efeito eleitoral.

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 23 de dezembro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
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