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Fuga para a frente

Durante o mês de agosto fomos surpreendidos com o anúncio por parte do secretário da saúde e desporto de que o governo regional iria preparar a administração de uma terceira dose da vacina contra a COVID-19, caso esta fosse necessária.

É no mínimo estranho anunciar uma medida sem saber se será posta em prática e muito menos quando. O debate científico sobre a necessidade de uma terceira dose está em curso. Além do mais, muito pouco há para preparar quando se tem um sistema montado com capacidade de vacinação de toda a população com mais de 12 anos.

Este anúncio, que afinal não passa de uma mera possibilidade e que ainda por cima é uma decisão técnica (e espero que o governo regional siga o que recomendam as entidades internacionais, europeias e nacionais sobre esta matéria) surge apenas para disfarçar que a região autónoma dos Açores é a mais atrasada no que diz respeito à vacinação.

Foi uma verdadeira fuga para a frente: anunciar algo novo para não discutir o que corre mal e tentar esconder a incompetência do governo.

Os Açores já eram a região mais atrasada do país aquando do anúncio do secretário da saúde e continuam a ser de acordo com último relatório de vacinação da DGS (onde é possível comparar os dados por região).

A 22 de agosto os Açores tinham 75% da população vacinada com a primeira dose e 66% com a vacinação completa, muito abaixo dos 88%/69% da região Norte ou os 83%/70% do Alentejo, por exemplo.

E porquê fazer esta comparação? Em primeiro lugar porque o governo regional do PSD/CDS/PPM usa e abusa, na gestão da pandemia, da comparação com o continente. Em segundo lugar porque os Açores tiveram, nas palavras do próprio governo regional, uma discriminação positiva ao nível da vacinação com apoio em número de vacinas e em recursos humanos para vacinar as ilhas sem hospital. E em terceiro lugar porque o governo regional apontou por variadíssimas vezes a falta de vacinas como o obstáculo ao avanço da vacinação nos Açores, chegando ao ridículo de prometer vacinas vindas da “América”.

Agora, quando não faltam vacinas e quando as ilhas a vacinar são praticamente apenas Faial, Terceira e São Miguel, os Açores aparecem como a região com os piores indicadores.

Nem a contratação de um coordenador “especialista em logística” – a somar à comissão de acompanhamento da pandemia - parece ter trazido resultados. A falta de recursos e a desorganização ao nível do agendamento foi óbvia e levou a um atraso desnecessário e facilmente evitável no processo de vacinação.

A demora em implementar um regime “casa-aberta”, há muito implementado no continente; a completa inoperância do autoagendamento; o lento e falível agendamento por telefonema que implica que o utente atenda o telefone e, se o não fizer, espere semanas por novo contacto, são exemplos claros da falta de organização.

Os centros de vacinação estavam e continuam muito bem organizados, faltou fazer chegar as pessoas.

Entretanto, foi extinta a comissão de acompanhamento da pandemia sem que a pandemia tenha sido declarada como terminada. Com a sua extinção soube-se, através do seu presidente, Gustavo Tato Borges, que duras medidas de contenção do vírus foram tomadas sem a sua concordância, nomeadamente a cerca sanitária a Rabo de Peixe. Se esta não foi uma decisão técnica então foi uma decisão política. É preciso que se esclareça que motivos políticos a justificaram.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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