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O negócio da guerra visto por um editorial do Público
No momento em que o mundo se choca com as imagens de desespero de Cabul, o editorial do Público dedica-se ao Bloco de Esquerda. Não é sobre o Afeganistão e o desespero do seu povo e das suas mulheres. Não é sobre os trabalhadores que colaboraram com a NATO e foram deixados à sua sorte. Não é sobre os negócios de milhões da guerra ou da droga. Não é sequer sobre a invasão ou a retirada. Não. É sobre a posição do Bloco, que reafirma o erro e irresponsabilidade da invasão criminosa em 2001 e da ocupação subsequente. Esperar que a ocupação de um país por uma potência estrangeira possa deixar mais que ruínas é ignorar a história. Não há ocupações fracassadas. Só ocupações - e as suas ruínas.
Manuel Carvalho parece estar convencido de que o Afeganistão foi invadido para que as meninas pudessem ir à escola. Nessa fábula, o 11 de Setembro teria sido o acontecimento que fez despertar o mundo para o “regime vil”. Essa versão precisa de omitir três factos: que esse “regime vil” era aliado dos EUA e por estes foi financiado; que a invasão, aliás denunciada por muitos democratas em todo o mundo, foi um crime à luz do direito internacional; e que responder a um movimento terrorista difuso invadindo um país é usar um pretexto e alimentar o ressentimento e o ódio que está na origem do fanatismo.
O editorial de Manuel Carvalho poderia ser apenas despropositado. Mas é grave, porque faz parte da barreira contra o questionamento da política da guerra. Essa barreira tenta ostracizar quem faz perguntas incómodas e esqueceu-se de questionar quem ganha com os milhões da guerra. E quem perde. Quem perde tudo. Essa barreira, que legitima quem abandonou as meninas afegãs e hoje tenta instrumentalizar a nossa comoção, nunca terá a coerência de propor a invasão da Arábia Saudita para proteger os direitos das mulheres. Essa barreira, que torna invisíveis as mulheres e homens que lutam pelos seus direitos, esconde os negócios de milhões que os subjugam.
Como Manuel Carvalho sabe, porque leu o comunicado do Bloco, nunca propusemos que os Taliban sejam interlocutores de coisa alguma. Mas não prescindimos de recusar, uma vez mais, a política da guerra e os milhões que, afinal, alimentam os Taliban e o terrorismo. Depois de tanto sofrimento, tanto ódio, tantas mentiras, depois da devastação do Iraque, do nascimento do "Estado Islâmico", a barreira permanente contra o questionamento é, ela sim, aliada dos ataques aos direitos humanos. Com trágicas provas dadas.
Comments
Brilhante comentário: lucido,
Brilhante comentário: lucido, objectivo, racional e honesto, praticamente todas as qualidades que faltam à maioria dos comentadores hoje em dia.
Catarina Martins disse:
Catarina Martins disse:
1- «…É sobre a posição do Bloco, que reafirma o erro e irresponsabilidade da invasão criminosa em 2001 e da ocupação subsequente. Esperar que a ocupação de um país por uma potência estrangeira possa deixar mais que ruínas é ignorar a história. Não há ocupações fracassadas. Só ocupações - e as suas ruínas.»
É lamentável, profundamente injusta e arrogantemente despeitosa para as vítimas do atentado de 11-9-2001, esta afirmação de Catarina Martins (CM).
Então, CM defende que um país, os EUA, apesar de serem atacados brutalmente pela Al-Qaeda, não deverá defender-se, atacando quem os atacou, mas sim ficar indiferente…
Que raio de justiça é esta, Catarina Martins???!!!
Será que também, historicamente, defenderia esta atitude de indiferença, perante as invasões nazis na 2ª Guerra Mundial?! Ou quaisquer invasões e ataques por forças acoitadas num país contra outro???!!!
Isto é dum antiamericanismo primário e, cumulativamente, dum antieuropeísmo… secundário…
E os franceses que “ocupam” o Mali, impedindo que a hedionda escumalha islâmica conquiste o mesmo, espalhando o vírus da agressividade e totalitarismo islâmicos pelos países do Sahel?!
E o exército português, presente na República Centro Africana, mais outras forças armadas europeias, também serão “ocupantes” perigosos e destrutivos da liberdade?!
2- «Nessa fábula, o 11 de Setembro teria sido o acontecimento que fez despertar o mundo para o “regime vil”. Essa versão precisa de omitir três factos: que esse “regime vil” era aliado dos EUA e por estes foi financiado; que a invasão, aliás denunciada por muitos democratas em todo o mundo, foi um crime à luz do direito internacional; e que responder a um movimento terrorista difuso invadindo um país é usar um pretexto e alimentar o ressentimento e o ódio que está na origem do fanatismo.»
Destruindo as falácias de Catarina Martins:
a) O “regime vil” talibã (1996-2001) nunca foi, obviamente, aliado dos EUA, mas hostil ao mesmo, pois abrigava uma organização terrorista, Al-Qaeda, responsável por diversos atentados de crueldade extrema e terrorista, culminando no 11/9.
b) A invasão do Afeganistão não foi nenhum “crime”, pois nunca é crime atacar quem nos ataca.
c) O terrorismo da Al-Qaeda não era difuso, mas sim concreto, com inúmeros e brutais atentados, antecedentes, organização essa que estava sediada no Afeganistão…
A Catarina Martins preconizaria o quê, como resposta a tais atos
facinorosos???!!!
Nesta atolambada afirmação, criticando a intervenção americana no Afeganistão, o que é que a Catarina defenderia nas invasões imperialistas, italianas, alemãs e japonesas, na 2ª GM???!!! A condescendência para não «alimentar o ressentimento e o ódio que está na origem do fanatismo»???!!!
3- «…nunca terá a coerência de propor a invasão da Arábia Saudita para proteger os direitos das mulheres»
Que desconcerto opinativo!...
Mas que “guerra” existe na Arábia Saudita suscetível de justificar a intervenção bélica, americana ou europeia???!!!
4- «Mas não prescindimos de recusar, uma vez mais, a política da guerra e os milhões que, afinal, alimentam os Taliban e o terrorismo.»
Lê-se, relê-se e até custa a acreditar como a Catarina e, por tabela, o Bloco de Esquerda, é capaz de proferir tão desatinado despautério…
O que é isto de “recusar a política de guerra”???!!! Será que a política é só de paz???!!! Será que não há guerras defensivas, por um lado, e ofensivas, por outro, contra os fautores da mesma???!!!
Que “milhões” é que “alimentam” os talibãs e o terrorismo???!!!
Este horrível arrazoado é demasiado mau para se ser indiferente!...
Pelo que deverá concluir-se, pelo tempo que a Catarina dedica à intervenção e retirada das forças da NATO no Afeganistão, que o Bloco de Esquerda está mais alinhado pela hedionda escumalha islâmica do que pelo ideário democrático e liberal da civilização ocidental…
5- Mas a Catarina Martins, afinal, defende o quê, nesta matéria e noutras analógicas???!!!
Quem é o Manuel Carvalho?
Quem é o Manuel Carvalho?
Só quem não está atento ou apologista deste jornalismo da fossa, é que lê os seus artigos
Autentico falta de decoro, está o jornalismo português e os jornais. Os jornais são controlados por máfias políticas, onde muitos não sabemos quem são os verdadeiros donos. Deixei de ler este jornal, assim como o Expresso porque me dá vómitos
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