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Na morte de Otelo, um silêncio insuportável

Ainda em choque com a notícia da morte de Otelo, não encontro nenhum consolo. O silêncio oficial é ensurdecedor. Que governo é este?!

Quem nasceu depois do 25 de Abril poderá perceber o significado da data, tem obrigação. Quem viveu o 25 de Abril não pode esquecer o dia, a esperança e a alegria que encheram as ruas.

Era madrugada quando se começou a perceber que a Junta Militar era uma fachada. Nem podia ser outra coisa, aquelas caras fechadas, autoritárias, marciais não correspondiam ao que viveramos na rua. Não foi de imediato que os portugueses souberam quem estava por trás do movimento.

Quem teria arquitectado o que depois se veio a considerar a maior operação estratégica militar de Portugal independente? Como se tinham utilizado as infraestruturas existentes para dar a volta a um regime que caduco, autoritário nos oprimia e massacrava? Só alguém que conhecesse muito bem a estrutura militar e as suas fragilidades operacionais. Já o dia tinha passado quando o nome de Otelo começou a ser conhecido.

A gratidão que sentimos é a mesma hoje, 47 anos depois. Não mudou. Ganhámos a liberdade e a democracia, duas palavras para tanto, para tudo. Neste aspecto muito concreto a História está feita. Alguma direita não aceita, pensa e fala de forma desprezível. Outros, porém, batem no peito mas não dão (ou demoram?) um passo importante, um gesto público de reconhecimento.

O luto nacional devia já ter sido decretado, as bandeiras a meia haste seriam uma obrigação, uma homenagem mínima. O governo na sua vertente PS esteve ocupado com as autárquicas, não pode interromper por minutos esse périplo para reflectir. Tudo absolutamente lamentável, triste. Indigno. Um gesto que também teria a sua carga de ambição. Talvez possamos todos homenagear na rua o homem que nos ajudou a conquistá-la.

Sobre o/a autor(a)

Bibliotecária aposentada. Activista do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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