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Autonomia solidária

A Autonomia não se pode ficar pelo que já conquistou ao nível político nem pelos progressos já alcançados. Porque quase tudo está por fazer e o sistema político sem a política para os problemas concretos não garante soluções e desenvolvimento.

Celebrámos na segunda-feira 24 de maio o dia da região. Em simultâneo comemora-se neste dia a partilha e a solidariedade das comunidades em todas as nove ilhas, características das festas do Espírito Santo - elo de ligação entre as nossas ilhas - e a Autonomia e tudo o que esta significou e significa como condição para prosseguir o desenvolvimento dos Açores.

Este ano, e uma vez mais, as celebrações do dia da região foram limitadas e condicionadas pelas necessárias restrições ainda em vigor. Mas a esperança de ultrapassar a grave pandemia que assola todo o mundo, cresce com o avançar da vacinação que só não é mais rápida porque a Europa protege mais as farmacêuticas do que os povos.

A Autonomia político-administrativa é solidária. Se não o for, então falha um dos seus desígnios. Uma autonomia solidária é objetivo inscrito na letra da constituição de abril e deve nortear o seu aprofundamento, as leis que este parlamento aprova e as políticas que os governos regionais desenvolvem. Sem Solidariedade como bandeira, mas acima de tudo como prática não há R. A. dos Açores.

Numa altura em que uma vez mais o parlamento dos Açores se debruça sobre o aprofundamento da autonomia é importante que este desígnio seja lembrado.

Só a Autonomia, e não derivas desagregadoras que distraem dos reais problemas, garante a responsabilidade do Estado perante as regiões. Só a Autonomia garante a unidade das nove ilhas dos Açores.

Todavia, a Autonomia não se pode ficar pelo que já conquistou ao nível político nem pelos progressos já alcançados. Porque quase tudo está por fazer e o sistema político sem a política para os problemas concretos não garante soluções e desenvolvimento.

No atual contexto de crise aprofundam-se desigualdades ancestrais, acentua-se a exploração e o acesso aos serviços públicos essenciais é dificultado por via das medidas restritivas para combater a pandemia

No atual contexto de crise aprofundam-se desigualdades ancestrais, acentua-se a exploração e o acesso aos serviços públicos essenciais é dificultado por via das medidas restritivas para combater a pandemia.

Os Açores atravessam uma tempestade para a qual não estávamos preparados e a verdade é que muita gente não tem onde se proteger.

Desempregados, trabalhadores informais e precários, crianças desfavorecidas, pessoas discriminadas por serem apenas quem são, gente que habita as zonas mais desfavorecidas destas nove ilhas. Muitas e muitos dos que mais sofrem com a crise estão separados pelo mar, mas une-os as dificuldades da vida.

A todos os açorianos e açorianas deve unir a solidariedade, rejeitando o preconceito por quem, a cada momento, depende dessa mesma solidariedade, como quem mais sofre com a crise.

A tempestade aprofunda as desigualdades pré-existentes. Só a superação destas através da luta contínua por uma sociedade mais justa e por uma economia capaz de suplantar séculos de monoculturas, de baixos salários e desigualdades pode efetivamente fazer cumprir o objetivo de solidariedade que a Autonomia encerra e que o espírito deste dia traduz.

Não há na Autonomia democrática e solidária lugar a centralismos, seja no sentido clássico que todas e todos conhecemos, quer seja o centralismo que significa a acumulação de poder nalgumas elites e que nega a superação das desigualdades seculares desta terra.

A VII Convenção Regional dos Açores do Bloco de Esquerda decorre no próximo sábado, 5 de junho de 2021

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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