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Palestina: em nosso nome, não!

O Governo português, que preside à UE, tem a responsabilidade de admitir que esta ofensiva não se trata da defesa de Israel. É mais uma agressão no âmbito da limpeza étnica e da punição coletiva contra os palestinianos de Gaza.

Israel lançou uma nova vaga de ataques contra o povo palestiniano. Bombardeamentos, ameaça de invasão terrestre, ataques à imprensa internacional, crimes de guerra, apartheid, tudo a "comunidade internacional" tolera à potência israelita.

Sim, já sabemos o que dizem os cúmplices da barbárie. Que em todos os conflitos há dois lados, e que Israel se defende dos rockets do Hamas. É mentira. A desproporção de forças e de vítimas define a ocupação ilegal da Palestina. Israel não tem a razão e esta não é uma guerra na qual se possa guardar equidistância.

Desta vez, o gatilho foi a violenta repressão dos protestos pelo despejo de famílias palestinianas em Jerusalém. A razão dos despejos é uma lei que permite aos judeus de Israel reivindicar terrenos e habitações onde vivam palestinianos, com base em supostos direitos de propriedade do século XIX. Esta é só uma das expressões do apartheid que Israel mantém contra os árabes da região.

Quando Santos Silva pede "proporcionalidade" a Israel, não fala em nosso nome, nem em nome do direito internacional

Aquilo a que os palestinianos chamam a Nakba, "a Catástrofe", começou em 1948, quando Israel declarou a criação do seu país em terras da Palestina. Desde então, a ocupação israelita provocou cinco milhões de refugiados. A maior parte dessa expansão foi feita em direta violação das fronteiras definidas pela ONU e reconhecidas pelos EUA em 1967.

O resultado desta política foi o emparedamento de milhões de palestinianos em guetos, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Em Gaza, acotovelam-se dois milhões de pessoas a quem Israel fechou todas as fronteiras. Os palestinianos de Gaza não podem sair e tudo o que entra, da água ao combustível, é racionado por Israel. 80% da população vive de ajuda humanitária, mas mesmo essas passagens são controladas e, muitas vezes, encerradas por Israel. Tudo, é claro, em nome da sua segurança.

Na Cisjordânia, o Estado israelita construiu um muro de 700 km em cima de uma parte do território que antes pertencia à Palestina. Chamam-lhe "barreira de segurança", mas o Tribunal de Justiça de Haia declarou-o ilegal e ordenou a sua destruição em 2004. O muro permanece, cercando e asfixiando cidades, condicionado a circulação de palestinianos, com mais de 500 checkpoints controlados pelo exército de Israel. Aí, como nas fronteiras de Gaza, os palestinianos são sujeitos a todo o tipo de violência e humilhações.

Durante séculos, os judeus, um povo sem país mas com uma fortíssima identidade, foi perseguido, segregado e humilhado. Uma parte desse povo, os judeus sionistas, fizeram da sua reivindicação do direito histórico à "terra santa" a legitimação para o crime. Hoje, o Estado por eles construído é uma das maiores potências económicas e militares do Mundo. E são os sionistas que perseguem, segregam e humilham.

O Governo português, que preside à UE, tem a responsabilidade de admitir que esta ofensiva não se trata da defesa de Israel. É mais uma agressão no âmbito da limpeza étnica e da punição coletiva contra os palestinianos de Gaza. Quando Santos Silva pede "proporcionalidade" a Israel, não fala em nosso nome, nem em nome do direito internacional.

Artigo publicado em “Jornal de Notícias” a 18 de maio de 2021

Sobre o/a autor(a)

Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista.
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