You are here

O terceiro perigo para o mundo

Depois do negacionismo de Trump e Bolsonaro, um terceiro populista de extrema-direita faz o seu povo pagar o preço da tragédia sanitária. É Narendra Modi, o primeiro-ministro da Índia, um país com 1400 milhões de habitantes e que é o maior produtor de vacinas do mundo.

No entanto, [a Índia] está a ser avassalada pelo pior surto desta pandemia, 350 mil novos casos por dia, número provavelmente subestimado (em Nova Deli, cidade de 20 milhões, a taxa de testes positivos é de 36%). Há duas semanas tinha começado o Ramadão muçulmano, festejou-se o ano novo dos hindus e sikhs e abriu a festa de MahaKumbh Mela, que se realiza de 12 em 12 anos e que juntou milhões de pessoas para um mergulho ritual no Ganges e outras atividades, que, aliás, prosseguem. Nenhuma cerimónia foi adiada e Modi, em campanha eleitoral, reuniu dezenas de milhares de pessoas numa sequência de comícios. Todos esses ajuntamentos num país com condições difíceis de habitação sobrepovoada dispararam as contaminações, uma situação agravada pela irresponsabilidade de governantes, que tinham desmantelado centros de isolamento no início do ano e que prometeram que a religião protegeria os fiéis.

Em emergência, a exportação de vacinas foi reduzida de mais de 20 milhões de doses por mês para um décimo desse valor (é uma das causas do incumprimento da AstraZeneca). Mesmo assim, a capacidade produtiva não está a ser completamente utilizada e, ao ritmo atual, a população demorará mais de um ano a ser vacinada. Entra então o negócio: quem tiver entre 18 e 45 anos pode comprar a sua vacina, o mercado salva os ricos. Seria difícil conceber uma tão metódica destruição da vida humana, mas é assim a Índia comandada por Modi.

Artigo publicado no jornal “Expresso” a 30 de abril de 2021

Sobre o/a autor(a)

Professor universitário. Ativista do Bloco de Esquerda.
(...)