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“Los Borbones son unos Ladrones”: libertem Hasél

Um Estado que prende os seus artistas por delito de opinião é um Estado sem liberdade expressão. E um Estado que usa os seus meios repressivos para defender uma monarquia caduca e corrupta não é uma democracia plena.

O rapper Pablo Hasél foi detido por dezenas de polícias, armados com equipamento antiterrorista, passa-montanhas e armas de guerra. O rapper estava refugiado na Universidade de Lleida e era procurado pela polícia depois de ter sido condenado a nove meses de prisão, por um crime cuja moldura penal pode chegar aos 20 anos de cadeia. O seu crime: rimas e tweets contra a monarquia.

Hasél foi acusado e condenado por “glorificação do terrorismo e insulto à Coroa e às instituições do Estado” por nas suas letras e redes sociais denunciar a corrupção da família real espanhola e a existência de centenas de presos políticos no Estado espanhol. Ou seja, Hásel vai para a prisão por exprimir a sua opinião.

“Não há dúvida que sem liberdade de expressão e de informação não há democracia”, diz o rapper na música “NI Felipe VI”, precisamente uma das músicas pelas quais é agora condenado.

“Quantos milhões e milhões/ saquearam e gastaram/ durante tantos anos/ tantos membros da família real?/ E logo os psicopatas que nos governam/ dizem que não há dinheiro/ para direitos de primeira necessidade/ Mas têm os anos contados/ A república popular está próxima” – canta no tema “Juan Carlos el Bobón”. Deve Hasél ser preso por estes versos?

Recordemos que o rei emérito Juan Carlos, a rainha Sofia, alguns dos netos e membros da família Borbón (na grafia espanhola) estão a ser investigados pela Procuradoria anticorrupção pela utilização de cartões de crédito com fundos estrangeiros. E que Juan Carlos foi investigado por ter recebido, em 2008, através de Corinna Larsen, sua amante, um “agradecimento” no valor de 65 milhões de euros, do rei da Arábia Saudita no âmbito de um negócio ferroviário. O rei não foi acusado porque estava ao abrigo da proteção da coroa.

A casa real é corrupta, é um facto, e quando alguém o denuncia numa música é preso por atentado terrorista. A casa real espanhola torna-se assim também antidemocrática e o Estado espanhol junta-se a regimes autoritários como a Turquia ou Marrocos. A monarquia só serve para se servir e usa todo o poder de repressão do Estado para manter o seu privilégio. Tal como canta Pablo Hasél: “Los Borbones son unos Ladrones”.

A sua detenção criou uma onda de solidariedade com manifestações em todo o Estado espanhol. Em Barcelona, estas manifestações foram violentamente reprimidas pela polícia, que disparou balas de borracha contra o rosto de manifestantes, provocando a cegueira permanente na vista de uma mulher. Centenas de artistas demonstraram a sua solidariedade, incluindo o ator Javier Bardem; os atores da série “La Casa de Papel” Álvaro Morte, Alba Flores e Itziar Ituño; e o realizador Pedro Almodóvar. Hásel não é caso único: entre 2004 e 2020 foram condenadas 128 pessoas no Estado espanhol por delitos de expressão.

A situação é grave e abriu uma crise política no governo. O PSOE de Sánchez não conseguiu prometer mais do que uma reforma penal que defenda melhor o direito de expressão, como se em democracia se pudesse punir menos a liberdade de expressão. Já o Podemos interpôs uma petição para o indulto de Pablo Hasél, sendo que a direita já exigiu a demissão de Iglesias por ter apoiado as manifestações a favor da libertação do rapper.

A onda de solidariedade chegou a Portugal, onde circula uma petição assinada por dezenas de artistas e milhares de pessoas (ver aqui) a exigir a libertação do músico.

Um Estado que prende os seus artistas por delito de opinião é um Estado sem liberdade expressão. E um Estado que usa os seus meios repressivos para defender uma monarquia caduca e corrupta não é uma democracia plena. Às vezes é preciso dizer coisas que parecem óbvias.

Liberdade para Pablo Hasél e para todos os presos políticos no Estado espanhol.

Artigo publicado em Jornal Económico a 22 de fevereiro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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