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10 momentos em que Ventura imitou Trump

Se já ‘vimos este filme’, conhecemos os perigos que encerra para a democracia e sabemos como acaba, temos a obrigação de não cair na armadilha.

Na passada semana assistimos ao culminar de quatro anos de Trump na Casa Branca, com a invasão do Capitólio provocada pelo próprio presidente cessante. Serão precisos anos, talvez décadas, para curar os Estados Unidos da América do ódio e para o país voltar a discutir os grandes problemas da humanidade, como as alterações climáticas.

Mas não foi assim que tudo começou. Tudo começou com a destruição do debate político, e há uma figura em Portugal que tem copiado essa estratégia trumpista nos debates presidenciais: André Ventura.

Vejamos 10 questões em que Ventura imitou Trump e como isso pode ser perigoso para o nosso país:

  • Apoio ao golpe. Desde novembro que Trump insiste ter ganho as eleições norte-americanas e, no dia em que Joe Biden ia ser formalmente nomeado presidente, decidiu fazer um comício em frente à Casa Branca incitando os seus apoiantes a realizarem um ‘golpe’. O resultado foram cinco mortos. André Ventura apoiou a eleição de Trump desde a primeira hora, dizendo mesmo que “se a vitória se confirmar esta madrugada, a democracia vencerá no mundo” e que “se Biden vencer, Deus tenha misericórdia de nós”.

  • Esconder os seus processos com a justiça. Trump não pagou impostos ao longo de uma década e, apesar de ter prometido apresentar provas em contrário, nunca apresentou as suas declarações fiscais. Em Portugal, e apesar de questionado por diversas vezes, continuamos sem saber porque é que a Polícia Judiciária fez buscas no gabinete de André Ventura.

  • Fake news. Os assessores de Trump cunharam uma nova maneira de escrever a palavra “mentira” chamando-lhe “factos alternativos”. Durante quatro anos, Donald Trump demonstrou que as fake news eram uma estratégia para se manter no poder. Aliás, continua a pô-la em prática ao afirmar que as eleições foram “roubadas”, narrativa que provocou a invasão do Capitólio pelos seus apoiantes. Já Ventura é capaz de defender tudo e o seu contrário, como ficou provado ao acumular três salários com a função de deputado, apesar de ter prometido que ficaria em exclusividade.

  • Trolls nas redes sociais. Nos últimos dias Trump foi expulso do Twitter e Facebook, mas desde sempre que o Presidente demissionário usou um exército de contas falsas da internet para defender as suas ideias. Em Portugal, várias investigações jornalísticas associam milhares de perfis-fantasma ao partido Chega.

  • Governar para os ricos. Com Trump na Casa Branca, os bilionários americanos ficaram um bilião de dólares mais ricos com os cortes fiscais. André Ventura defendeu em Portugal uma taxa fixa de IRS que, de acordo com o Polígrafo, “beneficia ricos e prejudica as famílias comuns”.

  • Negacionismo das alterações climáticas. Graças à ação do Presidente, os EUA saíram do Acordo de Paris e cortaram o financiamento a todas as agências públicas de estudo e combate às alterações climáticas. Já Ventura votou contra todas as moções de saudação da Greve Climática, com milhares de estudantes à porta da Assembleia da República a exigir combate à Emergência Climática.

  • Racismo e xenofobia. Trump nunca condenou a violência policial que assassinou George Floyd e outras pessoas negras nos últimos anos nos EUA, mas disse que o movimento Black Lives Matter era um símbolo de ódio. Ventura fez exatamente o mesmo: aquando do espancamento de Cláudia Simões pela polícia, e apesar do agente ter sido constituído arguido pela agressão, o presidente do Chega defendeu que a atuação policial tinha sido “legítima”. E, tal como Trump escolheu os mexicanos para criar um inimigo interno, também Ventura não se cansa de criar estigmas sobre a comunidade cigana.

  • Desvalorização da Covid-19. O Presidente americano decidiu nunca proteger o seu povo da pandemia, desvalorizando o uso da máscara, resistindo às medidas de contenção, atacando as orientações das autoridades de saúde ou mesmo caindo no ridículo de propor a “injeção de desinfetante” no corpo das pessoas para eliminar o vírus. André Ventura também atacou a Diretora Geral da Saúde, Graça Freitas, e o Congresso do Chega não cumpriu as normas de segurança.

  • Direitos Humanos. Os últimos dias do mandato de Trump foram marcados pela aceleração das execuções das penas de morte, ao contrário do que era tradição entre presidentes cessantes. Já em Portugal, Ventura tem defendido a prisão perpétua ou a castração química, medidas que vão contra os direitos fundamentais.

  • Apoio dos neonazis. David Duke, ex-líder do Ku Klux Klan, manifestou o seu apoio a Donald Trump desde o primeiro instante e sublinhou a importância esmagadora do “voto branco” para a sua eleição. Em Portugal, Ventura é apoiado por Mário Machado, fundador e antigo líder da fação neonazi Hammerskins Portugal.

O trumpismo é uma estratégia política, arquitetada primeiro por Steve Bannon (ex-conselheiro de Trump), que destrói o debate político e usa truques para manter a comunicação social a promover constantemente o candidato. Só agora, depois da invasão do Capitólio, é que vimos destacados comentadores e políticos de direita a defender o presidente americano demissionário, mas em Portugal o trumpismo está bem vivo em André Ventura, como observámos nos debates presidenciais. Por isso, se já ‘vimos este filme’, conhecemos os perigos que encerra para a democracia e sabemos como acaba, temos a obrigação de não cair na armadilha.

Artigo publicado no Jornal Económico a 11 de janeiro de 2021

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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