You are here

Um ano horribilis, onde também houve coisas boas

2020 foi um ano estranho, inimaginável, difícil; muito difícil. Um ano horribilis que todas e todos desejamos superar. Suspeito que o próximo não seja mais fácil, por isso é essencial valorizarmos as coisas boas que também nos acontecem e tomar decisões acertadas para o futuro.

Uma das melhores coisas do trabalho parlamentar é que ele começa muitas vezes fora do Parlamento. Começa numa conversa com alguém que nos procura para reclamar de uma situação, com um mail para o Bloco de Esquerda que denuncia um problema ou até com uma notícia que lemos num jornal ou na net. Outras vezes é um estudo, um relatório elaborado por uma entidade ou uma reunião com uma associação específica que levantam o problema e impulsionam o trabalho. É deste contacto com a realidade que surge a necessidade e dela as ideias para agir, para promover as mudanças nas Leis que facilitem a vidas das pessoas ou corrijam injustiças e discriminações.

Outra coisa boa desse trabalho de equipa feito por deputada/os, assessores, especialistas, associações… é que ele não termina no Parlamento. Entregue a proposta de lei ela deve ser amplamente discutida. Assim aconteceu a 13 de dezembro, nos Olhos de Água, à Lei de Bases do Clima proposta pelo Bloco de Esquerda, que vai ser discutida no Parlamento a 7 de janeiro (pjl578-xiv.pdf).

O Centro Ciência Viva do Alviela – Carsoscópio, em Alcanena, onde a Ciência e a Educação se juntam, foi o local escolhido para a reunião que contou com a participação de vários movimentos e ativistas ambientais do distrito, de Tomar a Abrantes, passando por Torres Novas, Pernes, Alcanena ou Barquinha.

Apesar das limitações impostas pelas rigorosas regras sanitárias observadas, foi possível partilhar informações sobre os graves problemas ambientais do distrito, com particular destaque para a poluição das linhas de água, rios e ribeiras. Os rios Tejo, Alviela, Almonda, Nabão e rio Maior têm sido vítimas da ganância, do desleixo e dos interesses económicos de alguns, em prejuízo da qualidade de vida das populações e do meio ambiente. Foi também discutida a situação do Eco Parque do Relvão, na Chamusca, devido à deposição de resíduos perigosos e à falta de acessos que, ao ser feito pelo meio das localidades, coloca em perigo as populações.
Segundo os participantes os graves problemas ambientais existentes no distrito de Santarém resultam ainda da falta de fiscalização dos potenciais poluidores, com particular incidência nas indústrias da pecuária intensiva e cortumes e das insuficiências no tratamento dos esgotos domésticos. Em vários casos no distrito verifica-se que o modelo do poluidor/pagador só serve quem polui, pois em última instância compensa pagar para poluir.

É essencial valorizarmos as coisas boas que nos acontecem, mas também recordar que “A crise pandémica não matou a crise climática, pelo contrário. A crise climática está aqui com renovada força e é uma emergência.” Estas foram palavras de Catarina Martins, a Coordenadora do Bloco de Esquerda. Em declarações à RTP, referiu ainda as lutas contra a poluição no Tejo e dos seus afluentes que têm sido travadas no distrito de Santarém e evocou os ativistas ambientais que denunciaram estas situações e que são perseguidos com processos judiciais: “Têm sido uns heróis na defesa da saúde pública, na defesa do ambiente”. Catarina Martins destacou a necessidade de prever passos concretos na luta contra as alterações climáticas e de nos debruçarmos sobre “como podemos criar emprego e combater a pobreza com uma lei para a justiça climática”.

As mudanças que pretendemos só serão possíveis com o estabelecimento de parcerias fortes entre os vários intervenientes desta luta pelo futuro: cidadãos, movimentos ambientais, cientistas, educadores, políticos. Trata-se de um trabalho contínuo de e para o Parlamento, num diálogo mútuo.
“No momento em que tanto investimento público vai ser feito e tanto investimento privado com acesso a fundos públicos vai ser feito, o critério climático tem de estar no centro. Colocar o ambiente no centro das preocupações do investimento é a grande decisão do nosso futuro”. São estes os meus votos para 2020, com saúde e ânimo.

Artigo publicado em Correio do Ribatejo a 29 de dezembro de 2020

Sobre o/a autor(a)

Professora. Ativista social
(...)