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Não será pelo Bloco que a direita chegará ao poder

Desde a primeira hora o Bloco afirmou que não contribuiria de forma alguma para a constituição de um governo de direita. Reafirmo aqui essa posição. Como corolário desta afirmação, está a disponibilidade do Bloco para viabilizar um programa de governo do PS.

No passado dia 25 de outubro, os açorianos e as açorianas votaram e decidiram que existiria uma nova configuração política no parlamento dos Açores. Os 57 deputados eleitos terão uma enorme responsabilidade de, pela primeira vez em 20 anos, exercer o seu mandato sem que um dos partidos tenha maioria absoluta.

O Bloco de Esquerda mantém dois mandatos, cresce em número de votos e em percentagem e é o único partido de esquerda com representação parlamentar que cresce. Após uma enorme renovação, o Bloco afirma-se e consolida-se como importante força de esquerda no panorama político da região. A consolidação e crescimento do Bloco na região era o nosso principal objetivo. Com a saída do PCP do parlamento dos Açores, que lamento, a responsabilidade do Bloco cresce enquanto única força política com representação parlamentar à esquerda do PS.

O Partido Socialista perde a maioria absoluta e, mais do que isso, perde 5 deputados e tem uma enorme quebra eleitoral em São Miguel, para além de perder peso eleitoral em 7 das 9 ilhas, apesar de ter vencido as eleições também em 7 círculos eleitorais.

Não era esperada uma queda tão acentuada, mas o descontentamento com as políticas implementadas pelo PS, por exemplo, na saúde, no combate às desigualdades, nos transportes era cada vez mais evidente. Algumas práticas do Governo Regional, que se acentuaram nestes últimos meses, fizeram o resto.

No entanto, deste descontentamento resultou principalmente um crescimento da direita e a entrada da extrema-direita na ALRAA, uma tendência que é nacional. Quando um governo de um partido que se diz de esquerda faz a política da direita, a direita cresce. Recordo o Governo de Sócrates que de tanto implementar planos de austeridade, escancarou a porta para que PSD e CDS governassem a partir de 2011.

Os Açores precisam de facto de uma mudança. Mas a mudança de que precisam não é aquela que propõem PSD, CDS e PPM, aliados a quem coloca a persiguição aos pobres como condição para viabilizar um governo de direita, assim como a outros partidos (PAN e IL) que abdicam de se definir para poderem surfar a onda, aproveitando sempre os ventos que sopram. Veremos que decisões tomam estes partidos. Ninguém se pode refugiar na cobardia de ficar em cima do muro.

Desde a primeira hora o Bloco afirmou que não contribuiria de forma alguma para a constituição de um governo de direita. Reafirmo aqui essa posição. Como corolário desta afirmação, está a disponibilidade do Bloco para viabilizar um programa de governo do PS.

Mas um qualquer governo do Partido Socialista terá de fazer profundas mudanças na sua política para ser possível o diálogo ao longo da legislatura com o Bloco. A não ser que o Partido Socialista prefira uma aliança em toda a linha com a parte da direita que tantas vezes classificou como “oposição responsável” e que agora é quem o quer derrubar. E quem sabe amanhã abrirá essa direita os braços para o PS novamente.

Mas no momento em que escrevo, o campo da direita já tem uma aliança para governar, tentando inclusive obter o apoio da extrema-direita do CHEGA, telecomandada a partir de Lisboa, assim como do IL e do PAN. Esse será um erro histórico da direita dita democrática que assim abdica de valores de mais de 4 décadas de democracia. Veremos o que os próximos dias nos reservam.

Do Bloco de Esquerda os açorianos e as açorianas podem esperar a frontalidade, a clareza e a coerência de sempre. Não será por nós que a direita chegará ao poder.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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