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A TAP e Portugal

Em Dezembro de 2019, o Grupo TAP dava trabalho directamente a mais de 14 mil trabalhadores, 9 mil na TAP SA e os restantes nas outras empresas do Grupo, fazendo assim depender mais de 35 mil pessoas directamente.

Ao longo dos últimos meses ouvimos de tudo e de qualquer um, as maiores barbaridades sobre a TAP. A insensatez e a falta de conhecimentos técnicos e aeronáuticos, com que qualquer entendido treinador de bancada fala sobre a TAP e lhe é dado tempo de antena, é realmente preocupante.

Ao que parece, agarrado nas vestes desta pandemia, veio também uma outra doença bastante maléfica, o jornalixo, porque grande parte desses críticos nunca se preocuparam em pesquisar o mínimo sobre a TAP e a importância da mesma para a economia nacional e para a soberania territorial.

Mas terão os muitos críticos a noção dos custos sociais e económicos associados à defesa da falência da TAP? Os custos das indemnizações desses postos de trabalho, ou as dezenas de milhar de postos de trabalho que seriam extintos, ou os custos financeiros para a Segurança Social em subsídios de desemprego e que por sinal seriam pagos pelo erário público. Ou os diversos prestadores de serviços da TAP que iriam arrastados também eles para a falência porque o seu principal cliente teria desaparecido.

Sugiro que como arma para lutar contra esta veia de adivinhação ou de movimentos acéfalos de quem só pensa pela cabeça dos outros, sejam utilizados números para com respeito perceber que por exemplo, quando se fala da TAP, fala-se de um Grupo que inclui mais empresas, tais como a TAP, a Portugália, a CateringPor, a UCS, a TAP M&E Brasil e a SPdH/Groundforce.

Que em Dezembro de 2019, o Grupo TAP dava trabalho directamente a mais de 14 mil trabalhadores, 9 mil na TAP SA e os restantes nas outras empresas do Grupo, fazendo assim depender mais de 35 mil pessoas directamente.

A imponência dos números é chocante, e devemos usá-los se queremos ser comentadores informados e não um grupo de amigos que joga à malha aos sábados e malha sempre na TAP, quer tenham razão ou não.

A TAP tinha ao seu serviço 105 aeronaves e o total de vendas e serviços prestados pela TAP no ano passado foi de cerca de 3,3 mil milhões de euros.

Mas as barbaridades ditas em plena praça pública contemplam também a errada ideia, já bastante antiga, de que os trabalhadores da TAP são extremamente caros. Vamos aos números.

Os encargos com pessoal, perto dos 600 milhões de euros, representavam apenas pouco mais de 20% do total de custos da TAP. Se os resultados da TAP não são positivos , tal não se deve certamente aos trabalhadores!

Os encargos com pessoal, perto dos 600 milhões de euros, representavam apenas pouco mais de 20% do total de custos da TAP. Se os resultados da TAP não são positivos , tal não se deve certamente aos trabalhadores! Desses 600 milhões de euros de encargos com pessoal, uma grande parte alimenta em contribuições a Segurança Social e o IRS, sendo estas contribuições anuais por parte dos trabalhadores da TAP uma das maiores fontes de receita da SS, que lhe permite pagar a muitos portugueses, todos os anos, os diversos apoios sociais existentes.

O que entristece é que habituamo-nos a nivelar por baixo, a ser críticos-não-construtivos , a ter ódios de estimação. Mas esquecemo-nos que em algum momento da nossa vida ou da vida de algum conhecido alguém irá precisar ou precisou do estado social, aquele estado que tantos tentam privatizar. Mas não precisam de agradecer aos trabalhadores da TAP! Só precisam de deixar de dizer tantas barbaridades sobre a sua empresa.

A TAP foi a empresa que mais investiu em Portugal em 2019, num investimento de mais de 1,5 mil milhões de euros. Gastou com Fornecimentos e serviços externos, cerca de 2,5 mil milhões de euros, gasto com centenas de empresas portuguesas, que dependem também elas e os seus trabalhadores da tão mal amada TAP.

Ao contrário da irlandesa low-cost, que desrespeita os direitos dos seus trabalhadores e que já foi alvo de processos pelos seus atropelos à legislação Laboral portuguesa , o Estado português não subsidia a TAP contam já 20 anos

De acordo com os relatórios de tráfego da ANAC, a TAP liderou em Lisboa o números de movimentos e de passageiros, repetindo o mesmo cenário no Funchal. E segurem o queixo porque até no Porto do Rui Moreira, onde os interesses privados e o lóbi das Low-cost, que o mesmo tanto gosta, e que os contribuintes têm pago através de subsídios estatais, a TAP liderou o número de movimentos e o número de passageiros, mesmo estando a concorrer numa pista onde o seu principal concorrente , a Ryanair é descaradamente apoiada. Ao contrário da irlandesa low-cost, que desrespeita os direitos dos seus trabalhadores e que já foi alvo de processos pelos seus atropelos à legislação Laboral portuguesa , o Estado português não subsidia a TAP contam já 20 anos. Uma empresa sua, e que já merecia o seu financiamento antes.

A TAP transportou 17 milhões de passageiros em 2019, o equivalente a 160% da população portuguesa! Isto sim é uma barbaridade de número, para quem quer fechar uma empresa como esta. Transportou mais de 80 mil toneladas de carga no último ano, contribuindo também por essa via para que muitas empresas nacionais consigam exportar os seus produtos.

A SPdH/Groundforce, empresa de handling do grupo, atendeu nos aeroportos nacionais mais de 110 mil rotações, assistiu no último ano mais de 25 milhões de passageiros, da TAP e das suas dezenas de outros clientes. Passaram pelos seus colaboradores mais de 126 mil toneladas de carga.

A CateringPor forneceu em 2019, cerca de 20 milhões de refeições, para a TAP e para mais de uma dezena de outras companhias, com recurso em grande parte à produção nacional. A Manutenção e Engenharia da TAP, reconhecida pela sua enorme qualidade tem mais de 50 clientes de todo o mundo.

A TAP tem um peso directo no PIB português de 2% , sendo muito provável mais do dobro disso em peso indirecto. Estaremos pois a falar de um valor de cerca de 5 mil milhões de euros anuais, tendo por referência o PIB de 2019, e tudo isto se deve à TAP. A mesma TAP que tantos malham e defendem que deveria desaparecer!

é indiscutível a importância da TAP também para o turismo português e para o equilíbrio da balança comercial, através das exportações

Hoje somos um país dependente do turismo, não surpreende pois que em 2019, o turismo tenha sido a maior actividade económica exportadora do país, sendo responsável por 52,3% das exportações de serviços e por 19,7% das exportações totais. As receitas turísticas registaram um contributo de 8,7% para o PIB nacional. É neste sector, em que 95% dos turistas entram em Portugal por avião que a TAP é responsável pelo transporte da maioria destes. Críticos da malha, é indiscutível a importância da TAP também para o turismo português e para o equilíbrio da balança comercial, através das exportações.

Mas o que os experientes exegetas não comentam, mas deviam, são as Low-cost serem subsidiadas pelo dinheiro dos contribuintes. Recomendo aos defensores do modelo Low-cost, fazerem uma pequena investigação sobre quais as companhias aéreas envolvidas em escândalos por voar com pouco combustível, para perceberem, que não encontram nessa perigosa lista o nome da TAP.

Recomendo aos defensores do modelo Low-cost, fazerem uma pequena investigação sobre quais as companhias aéreas envolvidas em escândalos por voar com pouco combustível, para perceberem, que não encontram nessa perigosa lista o nome da TAP

Ou caso a TAP desaparecesse, se no dia seguinte, a Air France ia a correr fazer os voos que a TAP faz trazendo milhares de passageiros oriundos dos países africanos francófonos. E os voos para o Brasil, sabem os experientes comentadores que a grande percentagem de passageiros com destino ao mesmo, são alimentados pelos diversos voos da TAP, vindos de quase toda a Europa.

O que mais me impressiona é que ainda há quem venha defender a privatização impulsionada pela birra covarde de Passos e de Portas, um negócio desastroso feito ao virar da esquina, comprovado pelos consecutivos resultados negativos dos últimos anos, consequência da administração privada da TAP e que hoje tornam o seu resgate tão pesaroso. Mas alguns ainda tem coragem de a elogiar e dizer que a reversão da privatização em 2016 foi um erro. Tudo tolos e amadores, esquecem-se que em 2020 já não existiria a TAP e se eventualmente existisse era totalmente privada. Estes apostadores da malha só são bons a apostar o dinheiro dos outros mas desde que seja sempre a comer da mesa do Estado.

Um país que numa caravela descobriu o Mundo, acredito que a cavalo num avião irá aproveitar a sua companhia aérea e pô-la ao seu serviço.

Esta viagem ainda agora começou, mas todo o Adamastor será vergado na força de uma Nação. E o Cabo das tormentas voltará a ser Cabo da Boa Esperança.

Sobre o/a autor(a)

Deputada Municipal do Bloco de Esquerda em Palmela
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