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Reavivar a memória

Recentemente reacendeu-se a polémica acerca da demora na entrega de correio e encomendas para os Açores. Uma empresa que prestava um bom serviço e que tinha bons resultados foi canibalizada pelos acionistas privados até sobrar apenas uma excrescência.

Recentemente reacendeu-se a polémica acerca da demora na entrega de correio e encomendas para os Açores. É certo que ela em muito se deve à contínua degradação dos CTT após a privatização. Uma empresa que prestava um bom serviço e que tinha bons resultados foi canibalizada pelos acionistas privados até sobrar apenas uma excrescência cujo serviço é um insulto aos seus clientes.

Não deixa de ser curioso que os deputados do PS/Açores na AR venham agora pedir a “reversão da sua privatização, que se tem revelado um erro de palmatória”

Não deixa de ser curioso que os deputados do PS/Açores na AR venham agora pedir a “reversão da sua privatização, que se tem revelado um erro de palmatória”. É lamentável que só agora reconheçam aquilo que qualquer açoriano e açoriana já tinha concluído há vários anos. E o que o Bloco de Esquerda tem várias vezes proposto: o controlo público dos CTT, sempre rejeitado pelos mesmos deputados do PS.

Também não será mentira que os enormes problemas relativos ao transporte de carga são influenciados pela redução da capacidade de carga por via da redução do número de voos mas também da capacidade de carga dos aviões algo que se verifica desde que deixaram de existir obrigações de serviço público nas rotas liberalizadas entre o continente, S. Miguel e Terceira.

Relembro que o chamado novo modelo de transporte aéreo nunca foi concluído, desde 2015! Isto porque nunca foram cumpridas as obrigações de transporte de carga aérea para S. Miguel e Terceira a partir do continente.

Depois de dois concursos falhados - é sempre uma boa justificação para não fazer o que tem de ser feito - foi inscrito, por proposta do Bloco de Esquerda, no orçamento do estado para 2020 a abertura do concurso para o transporte de carga aérea e correio entre Lisboa, Ponta Delgada e Terceira até final de junho de 2020.

Até hoje, tanto quanto se sabe, nada foi feito! E o que diz o Governo Regional do PS sobre isso? Nada!

Mas há outra medida no orçamento do estado que, ao contrário da carga aérea, tem merecido a atenção das deputadas e do deputado do PS/Açores na AR: a construção da nova cadeia de Ponta Delgada.

Mas em vez que exigirem o cumprimento do orçamento do estado trabalham ativamente para boicotar o seu cumprimento.

De novo por proposta do Bloco de Esquerda, está definido que, “o Governo, em 2020, inicia os trabalhos de construção de um novo estabelecimento prisional no concelho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, identificando, em colaboração com o Governo Regional dos Açores, um terreno que viabilize a sua concretização.”

Mas o que defende o PS/Açores? A construção do estabelecimento prisional na famigerada Mata das Feiticeiras. Insistem na remoção da bagacina durante dois anos e aplaudem o Governo da República quando diz que é isso que irá fazer. E o Governo Regional que diligências tomou para concretizar esta proposta?

Que interesses estão em causa, quando uma lei de valor reforçado é objetivamente sabotada por um Governo e pelos deputados da AR do PS eleitos pelos Açores?

O Governo da República e o PS/Açores deliberadamente não querem cumprir o que está no orçamento do estado. Que interesses estão em causa, quando uma lei de valor reforçado é objetivamente sabotada por um Governo e pelos deputados da AR do PS eleitos pelos Açores?

Na reta final da discussão do orçamento suplementar do estado para 2020 convém não esquecer o que está inscrito no orçamento em vigor e que se manterá com esta alteração substancial provocada pela pandemia. É bom que os efeitos da pandemia não apaguem também a memória e a responsabilidade política de quem nada faz ou boicota o que está inscrito no orçamento.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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