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Ana Gomes quer um candidato do PS
Algumas notícias trouxeram um visível bulício sobre as eleições presidenciais, lá pela alvorada de 2021. António Costa presume que, no ano que vem, por esta altura, voltará a participar numa efeméride em solo empresarial alemão (Volkswagen-Palmela) e entendeu dizer que tanto Marcelo quanto ele lá estarão, esperando coisa melhor que uns singelos pastéis de bacalhau.
Essa inferência da recandidatura e triunfo eleitoral de Marcelo, sucedendo a Marcelo, pressupõe um conformismo partilhado do secretário-geral do PS. Se isto não foi um endosso pelo menos foi limpo e sem osso! Eleitores do PS, a bem do governo minoritário do PS, votem Marcelo! Sugerida por meias palavras, a mensagem ecoou forte e desassossegou muita gente do PS que tem muito bons motivos para não gostar de uma candidatura conjunta do PSD/PS, quem sabe aditivada com o CDS.
O Bloco de Esquerda não vai ficar na selfie de Marcelo, mas também não será arrastado para as legítimas polémicas internas do PS
É lamentável que o PS, pela segunda vez, não patrocine nenhuma candidatura a Belém, faltando descaradamente ao jogo democrático apenas para evitar algum revés indireto do primeiro-ministro num pleito que nem sequer condiciona a ação governativa.
Esteve e está bem Ana Gomes ao defender uma candidatura do PS. Certamente, o PS deveria ter alguém, na sua área, para transmitir a visão própria de sociedade, de estratégia para a República e para a União Europeia, de explicitação das próximas etapas de um país que se anda a reconstruir a prestações. Uma candidatura que, sem esconder o partido, teria de proteger o governo minoritário do PS e os seus proclamados méritos.
Parece que Ana Gomes, em coerência, acha interessantes e necessárias as candidaturas de outras áreas partidárias à esquerda, não representadas no governo e hoje na oposição, certamente com visões muito diferenciadas sobre a política europeia e os condicionamentos de Bruxelas à Constituição da República, embora possam partilhar pontos de vista sobre o combate à corrupção ou sobre a cleptocracia angolana.
A falta de comparência do PS, introduzida por António Costa e prefaciada por Carlos César, não pode ter como resposta da esquerda o confinamento numa guerrilha a olhar para a IL, CDS e Chega. Certamente todas as arremetidas neofascistas vão ter resposta inequívoca.
O Bloco de Esquerda não vai ficar na selfie de Marcelo, mas também não será arrastado para as legítimas polémicas internas do PS. Isso seria alienar a confiança de quem quer dar expressão a um programa próprio da esquerda que é uma alternativa na democracia.
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