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Covid-19 na península de Setúbal, breve análise

A margem sul está a cumprir as indicações para isolamento social. É preciso que os cidadãos tenham a consciência que todos são agentes de saúde pública. Esta maratona apenas será vencida com a ajuda e participação de todos.

Segundo os especialistas, a pandemia de COVID-19 que se instalou no nosso país atinge agora a fase de planalto. Ainda temos um longo caminho a percorrer até regressar à normalidade. Ao dia 16 de abril, existem em Portugal 18.841 casos de COVID-19, 229 dos quais em estado grave, com 69 óbitos a lamentar.

Os dados locais não possuem tanta qualidade nem densidade quanto os dados disponibilizados a nível nacional. No entanto, é possível utilizar o que há disponível para uma breve análise e comparar com o panorama nacional.

Dos casos conhecidos, apenas 567 encontram-se na península de Setúbal. Na semana passada eram 524 casos, o que corresponde, portanto, a uma subida de 8,2%. A nível nacional, no mesmo período obtivemos uma subida casos correspondente a 17,85%, o dobro da registada localmente.

Quanto à distribuição dos casos pelos concelhos da região, evidenciam-se algumas desigualdades. Almada é concelho com mais casos, seguido do Seixal, na base da lista encontramos o concelho de Alcochete:

Tabela 1 - número casos por concelho a dia 16 de abril



Almada

149

Seixal

134

Barreiro

80

Setúbal

60

Moita

56

Montijo

40

Sesimbra

19

Palmela

18

Alcochete

11

A desigualdade é bastante visível na tabela, Almada possui 13 vezes mais casos que Alcochete. Aprofundando a análise, sabemos que apenas o número em bruto não é suficiente para comparar diferentes regiões. Com base na estimativa da Pordata para a população residente por município, é possível calcular o número de casos por mil habitante, tornando assim possível uma melhor comparação:

Figura 1 - Casos por mil habitante a 16 abril

Figura 1 - Casos por mil habitante a 16 abril

Não só se torna possível uma melhor comparação entre concelhos, como torna possível verificar o impacto da doença em cada região. Nesta métrica, o concelho do Barreiro salta para a liderança com 1,06 casos por mil habitante, seguido de Almada com 0,88, Moita com 0,87 e Seixal com 0,81. Na base da lista, encontramos Sesimbra com 0,37 e Palmela com 0,28 casos por cada mil habitante residente.

O que poderá explicar esta diferença entre regiões tão próximas entre si? Numa primeira análise, não será a proximidade geográfica a explicar estas alterações nem as atividades económicas predominantes em cada concelho.

Uma possível resposta a esta desigualdade encontra-se relacionada com a diferente densidade populacional de cada concelho. Sendo um vírus que necessita de contato social para ser transmito, faz sentido que em regiões com mais concentração de habitantes, a doença se propague mais.

O gráfico seguinte, estratifica o número de casos por mil habitantes pela densidade populacional de cada concelho:

É interessante observar o gráfico e perceber que existem dois grupos distintos. Um grupo composto pelos concelhos com mais de mil habitantes por quilometro quadrado, que possuem mais de 0,8 casos por mil habitante: Barreiro, Almada, Seixal e Moita. Outro grupo de quatro concelho, com menos de 500 habitantes por quilómetro quadrado e menos de 0,6 casos por mil habitantes: Sesimbra, Alcochete, Palmela e Setúbal. O concelho do Montijo, com 0,71 casos por mil habitante, é o caso que se encontra na fronteira, não caindo claramente em nenhum dos anteriores grupos. Talvez por se tratar de um concelho com caraterísticas específicas, um exclave mais urbanizado e com pouca área e uma área maior, mas menos urbanizada. Para melhor poder aprofundar esta análise, seria importante ter dados estratificados por freguesia, desde que, seja salvaguardado o anonimato dos cidadãos.

A margem sul está a cumprir as indicações para isolamento social. É preciso que os cidadãos tenham a consciência que todos são agentes de saúde pública. Esta maratona apenas será vencida com a ajuda e participação de todos.

Sobre o/a autor(a)

Enfermeiro especialista em saúde infantil e mestre em saúde pública.
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