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Modelo de Acesso ao Ensino Superior (algumas notas para o pós-pandemia)
O que é que diz, então, o Decreto do Governo sobre o assunto?
“Exames:
Não serão realizadas as provas de aferição nem os exames do 9.º ano.
No ensino secundário só serão realizados exames das 22 disciplinas cujas provas finais são necessárias para o acesso ao ensino superior.
Cada aluno só realiza o/s exame/s de que necessita para acesso ao ensino superior e a nota só releva para este efeito, não contando para a avaliação da/s disciplina/s do ensino secundário.”
Resumindo: os exames do 9º ano ficaram sem efeito, este ano letivo. E vai ser possível concluir o Ensino Secundário sem exames nacionais. Contando apenas a nota interna, os exames passam a contar apenas para efeito de ingresso no Ensino Superior. Foi preciso vivermos uma pandemia para decidir o óbvio.
Não será durante uma crise com a que estamos a viver que se tomarão medidas estruturais como uma alteração profunda no modelo de acesso ao ensino superior. Mas isso não implica que o debate em torno dessas matérias esteja congelado. Por isso, partilho aqui duas ideias-chave para um debate futuro.
1. Sou favorável a que todos os estudantes terminem os seus ciclos de ensino sem exames nacionais (4º ano, 9º ano e 12º ano). Se estes estudantes foram avaliados pelos seus professores durante esses anos, todos os dias, todos os trimestres, então essa nota tem que valer. A avaliação contínua não pode continuar a ser argumento durante o ano letivo, tem de valer como método aplicável até ao término do ano letivo ou do ciclo de estudos.
2. Os alunos que terminem o Ensino Secundário e queiram prosseguir devem ter um Concurso Nacional de Acesso ao Superior, mas sem ser baseado no atual modelo de exames. Tem de haver instrumentos que avaliem competências múltiplas. Se é importante manter um modelo de acesso universal porque isso combate assimetrias entre Instituições de Ensino Superior, também é imprescindível renovar o modelo de avaliação atual.
Na legislatura passada, foi produzido um importante estudo sobre competências à saída do ensino obrigatório. Esse documento “Perfil do Aluno para o Século XXI” pode e deve ser utilizado para enquadrar este debate. É necessário garantir que, quaisquer que sejam os passos a dar, devem ser sempre no sentido de combater as desigualdades existentes no acesso. Comecemos por aí.
Comments
Avaliar "competências
Avaliar "competências múltiplas" pode ser uma ideia bem intencionada, mas na prática acho que seria uma catástrofe (e provavelmente ainda mais discriminatório para os alunos sem "berço" do que o sistema atual) - isso dificilmente poderia ser posto em prática sem recorrer a avaliações subjetivas (como atividades extra-curriculares, entrevistas, referencias dos professores, etc.), em que é ainda maior a tendência para (mesmo inconscientemente) escolhermos pessoas parecidas conosco; e é provavelmente ainda mais díficil a alunos de meios desfavorecidos adquirirem soft-skills do que conhecimento académico (já que enquanto na aprendizagem académica é eventualmente possível tentar ultrapassar as lacunas caseiras com muito esforço e dedicação, no que diz respeito às soft-skills normalmente adquiri-las implica mesmo estar imerso num meio que as potencie).
Muito obrigado pelos
Muito obrigado pelos esclarecimentos. Onde encontro o documento oficial com essas informações. Trabalho com escolas e isso muda muito nosso planejamento.
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