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E depois do “corona”?

A economia vai precisar de apoio, é certo, o governo tem de decidir ajuda a sério em particular às micro e pequenas empresas.

Não se conhece a cura para o corona vírus. Mandaram-nos ficar em casa para fazer o combate. E é assim mesmo. Não havendo cura, o melhor é apostar na prevenção. O isolamento social é pois o melhor remédio.

No que às noticias diz respeito, são em catadupa, em particular nas televisões. Dirão: não há volta a dar-lhe… Sim, precisamos de estar informados, mas também é certo que é preciso desligar o botão de vez em quando para podermos fazer outras coisas, ler, jogar, cozinhar, conversar, etc..

No meu caso particular, há noticias que me deixam aterrado. Ainda estávamos no início desta crise e logo começaram a cair as notícias sobre despedimentos, em pequenas mas também em grandes empresas, os/as precários em primeiro lugar, “o negócio vai cair e antes que seja tarde, rua!” A segurança social paga o subsídio, arranja-te. Pelo que estamos a ver, a procissão ainda vai no adro, apesar de o governo ter anunciado um conjunto de medidas de apoio às empresas e ainda bem que o fez. Quando as pessoas mais precisam, há patrões e empregadores que só pensam no seu lucro e só conhecem o despedimento para resolver os seus problemas. E os problemas de quem fica sem emprego? “Desenrasquem-se”, é o seu pensamento.

A economia vai precisar de apoio, é certo, o governo tem de decidir ajuda a sério em particular às micro e pequenas empresas, mas as empresas não podem simplesmente lavar as mãos como Pilatos: a responsabilidade social é de todos. Não haverá recuperação da economia com desemprego.

Outra notícia que nos tem chegado com alguma frequência e com tendência para aumentar, é sobre os apoios reivindicados ao Estado. E quem reivindica? Muitos daqueles que fazem do “empreendedorismo” a estrela polar, de gente que sempre desdenhou do Estado, sempre afirmaram e reafirmaram que o país precisa de um Estado mínimo - só o exército e as polícias. Que vivemos num Estado paternalista que impede a liberdade do indivíduo (leia-se do empreendedor), um Estado que leva tudo em impostos, um Estado despesista e paternalista, que desperdiça dinheiro com todos e não valoriza o mérito de cada um. E não é que agora todos querem o apoio do Estado?
Todos nos lembramos da banca na ultima crise económica, tudo quiseram e tudo levaram e continuam a levar, o trabalho e a riqueza de todo um povo.

Um “Estado mais pequeno e mais eficaz”, tanta vez que todos e todas nós ouvimos esta ideia, esta bandeira política - o mercado faz tudo, resolve tudo, organiza tudo, sabe tudo. Que seria de nós sem Serviço Nacional de Saúde, sem Segurança Social, sem medidas extraordinárias para apoiar quem precisa – pessoas, famílias e empresas?
O Governo já decidiu que só poderão ter acesso aos apoios as empresas que não despedirem. Está certo. Mas temos de fazer mais, como a Espanha está a fazer – é proibido despedir. Só assim será possível recuperar a economia sem destruir as pessoas. Nunca vivemos um período como este, nunca vivemos uma pandemia como esta. Vamos também ter a coragem política de encontrar outras soluções e não aquelas que sempre foram aplicadas no passado. Ninguém pode dizer que é impossível.

Artigo publicado em Jornal Torrejano a 5 de abril de 2020

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Operário Ferroviário
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