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As escolas, finalmente

Fica então para segunda-feira porque fechar as escolas a uma sexta-feira-13 pode dar azar. As escolas ainda não fecharam mas a Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares anunciou o encerramento do atendimento presencial.

As escolas não encerraram mas já não há jogos nem treinos nos estádios de futebol. As escolas ainda não fecharam mas muitos municípios já interditaram piscinas e pavilhões. As escolas não fecharam mas muitas universidades e politécnicos já suspenderam as aulas. As escolas ainda não encerraram mas já há autarquias que classificam as suas praias como proibidas. As escolas não fecharam mas as faculdades de medicina pedem uma quarentena como na China porque "é preciso agir já". As escolas ainda não encerraram mas eventos culturais foram cancelados e equipamentos culturais interditos. As escolas não fecharam mas muitos bares e espaços de lazer já trancaram as portas. As escolas ainda não encerraram mas já temos o presidente da República em quarentena depois de distribuir beijos e abraços em plena crise Covid-19. Não é fácil de entender. As autarquias, as entidades locais e as organizações privadas estão a fazer a sua parte. Só o poder central continuava a achar que esta situação era sustentável. O país real, esse, já acordou.

As escolas encerrarão na segunda-feira para salvaguarda da nossa saúde e dos nossos filhos mas, incompreensivelmente, demasiado tarde. Ou talvez tarde demais. Mas não nos equivoquemos. Tenhamos o maior respeito pela dedicação, responsabilidade e competência daqueles que, nesta altura, têm que tomar opções difíceis e decidir sobre a forma como nos organizamos em sociedade no combate a algo que nunca havíamos experienciado ou antecipado. Mas o privilégio de termos sido o último país do ocidente europeu a ser atingido pelo coronavírus e o conhecimento de muitas realidades comparadas em países antes afectados, devia-nos ter informado de maior bom senso. Bom senso, coisa simples a exercitar quando se lida com um mundo a ser vivido em apalpação e ligado a ventiladores.

Ainda está por medir a dimensão do desafio de roleta que levou o Governo a esperar pela declaração de pandemia pela Organização Mundial de Saúde para finalmente encerrar as escolas. Se a intenção era a de evitar uma bola de neve de histeria, criou-se uma tempestade de desconfiança à custa do Conselho Nacional de Saúde Pública. Desnecessário. Se há vida para além do vírus, façam a vossa parte.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 13 de março de 2020

Sobre o/a autor(a)

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.
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