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A agenda feminista ocupou as ruas em 2019

A denúncia, a mobilização e o combate à violência sexual fizeram parte da agenda do movimento de mulheres em 2019. Num tempo em que o conservadorismo volta a atacar os seus direitos, o protagonismo das mulheres destacou-se também nas lutas contra o neoliberalismo e na greve internacional feminista.
Chilenas a fazer a coreografia "um violador no teu caminho", novembro de 2019 - Foto de Carla Motto/Facebook
Chilenas a fazer a coreografia "um violador no teu caminho", novembro de 2019 - Foto de Carla Motto/Facebook

O ano começou com uma demonstração de força do movimento de mulheres na Indía que formaram uma corrente humana a que chamaram o “muro das mulheres”, que se estendeu por 620 quilómetros e que de acordo com o próprio governo de Kerala juntou cerca de cinco milhões de pessoas contra a discriminação das mulheres e a proibição de entrada num templo.

A discriminação contra as mulheres reflete-se também na desigualdade salarial que prevalece entre homens e mulheres no mundo inteiro e que foi uma das razões que levou milhares de mulheres a fazer greve laboral e aos cuidados na Suíça, em 2019, exigindo “mais tempo, dinheiro e respeito” para as mulheres.

Verde foi a cor dos lenços usados pelas manifestantes que encheram as ruas das cidades argentinas assinalando o primeiro aniversário dos “pañuelazos”, as manifestações pelo direito ao aborto que juntaram milhares de mulheres na ruas da Argentina.

Lilás foi a cor dos lenços usados por todo o mundo nas marchas e mobilizações da Greve Feminista que ocorreram em várias cidades do mundo e que abrangeram não só o trabalho assalariado como o trabalho doméstico, a prestação de cuidados, o consumo e o setor estudantil.

Num mundo em que o conservadorismo volta a atacar os direitos das mulheres destacámos pela negativa o governo de Bolsonaro no Brasil, a bárbarie legislativa no Brunei e as tentativas de legimitar a violência contras as mulheres de diversas forças políticas europeias como a formação de extrema-direita Vox na Andaluzia.

A denúncia, a mobilização e o combate à violência sexual também fizeram parte da agenda do movimento de mulheres em 2019. A impunidade dos violadores levou a protestos massivos na Índia. Os sequestros, o assédio, as agressões e demais formas de violência contra as mulheres mobilizaram milhares de mulheres a manifestam-se no México.

Na América Latina o levantamento das mulheres tem sido exemplar. Mais de 500 mil militantes feministas participaram no 34º Encontro Plurinacional de Mulheres, Lésbicas, Travestis, Pessoas Trans e Não Binárias em Buenos Aires, Argentina. No Chile dezenas de denúncias de violência sexual por parte de militares e polícias chilenos durante a repressão dos protestos contra o governo de Sebastian Piñera mantiveram as mulheres nas ruas e o grupo feminista LasTesis numa manifestação acabou por criar um hino feminista que foi adotado primeiro no país inteiro e já foi repetido em protestos solidários por todo o mundo. “Um violador no teu caminho” é uma denúncia do papel das instituições em forma de canção e com uma coreografia associada.

O protagonismo das mulheres nas lutas atuais contra o neoliberalismo foi o mote da entrevista à cientista política argentina Veronica Gago que destaca a luta coletiva e o papel da Greve Internacional Feminista neste protagonismo e na definição de um campo de ação política que nos deixa algumas pistas para definir o que também Andrea Peniche propõe como um feminismo anticapitalista para o século XXI.

 

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Neste dossier:

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