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A propósito da semana de luta contra a precariedade…

Mais de 100 000 trabalhadores afectados! A “externalização” de serviços nos call center é já uma regras e teve nos últimos 20 anos, um crescimento exponencial.

Empresas nacionais e multinacionais como por exemplo a ALTICE, NOS,EDP, Vodafone, Apple, Wish, SFR-Telecom, Amazon, Bouygues Telecom, entre tantas outras em quase todos os sectores de actividade, descobriram já há alguns anos uma nova forma de explorar os trabalhadores que embora não sendo seus, trabalham para elas. Não são seus porque em vez de os contratarem directamente, preferem fazê-lo através de empresas de Outsourcing e de trabalho temporário, retirando da empresa que usufruiu do trabalho toda a responsabilidade por estes trabalhadores.

Através de relações triangulares e quadrangulares de contratação laboral que apenas têm em vista embaratecer o trabalho e libertar os grandes grupos económicos do trabalho com direitos, cada vez são mais os trabalhadores que se encontram sob este tipo de relação de trabalho.

Os trabalhadores portugueses são reconhecidos internacionalmente por serem os mais afáveis, prestáveis, com melhor pronúncia em idiomas estrangeiros, mas não reconhecem o seu valor quando falamos em matéria salarial nem condições de trabalho.

O desgaste do trabalhador e das condições de trabalho verifica-se em várias vertentes, começando logo pelo salário, que normalmente tem uma componente base, que anda à volta do salário mínimo nacional e componentes que são variáveis, como os prémios de qualidade, assiduidade e produtividade e aqui começa a subtracção porque têm por base objectivos quase sempre inatingíveis; o tempo de trabalho, que ronda as 40 horas semanais e as oito horas diárias, em alguns casos é controlado ao minuto, descontando-se todos os minutos não trabalhados. Um pequeno atraso, o PC que demora a ligar, uma ida à casa de banho, etc, podem justificar descontos de tempo, com os respectivos cortes na retribuição, pagamento de horas extra quase nunca existe, vai tudo para Banco de Horas, mesmo quando não está previsto no contrato de trabalho; o direito a uma pausa a meio da manhã e da tarde, nem sempre acontece porque a “fila de espera” está alto e há que dar mais rendimento e se precisam de ir à casa de banho, têm de pedir e a resposta é quase sempre “ aguarda mais um bocadinho”, só que o bocadinho às vezes transforma-se em horas; mudanças de turno feitas de qualquer forma sem respeito pela legislação; quanto às condições de segurança e saúde no trabalho, verifica-se cadeiras estragadas ou não reguláveis, falta de apoios para os pés, fraca qualidade na limpeza, má ventilação, condições térmicas inadequadas, auriculares danificados, sendo que as piores estão ligados aos riscos psicossociais devido aos ritmos de trabalho extenuantes, o controlo sobre controlo, a monitorização à palavra, ao minuto e à tarefa, tornam tudo muito mais difícil de suportar, tendo como consequência a depressão, o esgotamento o stress laboral e a síndrome de Burnout.

E quando não aguentam mais? Restam as baixas médicas, as propostas da empresa para “mútuo acordo” sem benefício algum para o trabalhador sempre com o princípio de “este já está espremido, venha outro” e a “porta da rua serventia da casa”. Tudo em prol de Lucros para os Bolsos dos Gestores e Accionistas.

As condições de trabalho são “tão boas” que as empresas de Outsourcing já têm dificuldade de conseguir contratar novos trabalhadores e ao invés de disponibilizarem melhores condições, viram-se para o “mercados internacionais”… Nos últimos tempos é notória a contratação de trabalhadores oriundos de países de língua portuguesa recentemente chegados ao território nacional, contra esses trabalhadores, que fique claro, absolutamente nada contra, antes pelo contrário, são trabalhadores, são pessoas à procura de melhores condições de vida, tal como nós portugueses fizemos durante anos e continuamos a fazer. No entanto, pergunto-me onde irão buscar novos trabalhadores quando estes perceberem que o trabalho com direitos existe em Portugal? A Marte?

Os trabalhadores não são dispensáveis mas sim necessários todos os dias para desempenhar funções fulcrais na mais importante missão das empresas, a satisfação dos interesses e das necessidades dos seus clientes e isto é reconhecido por todos, só não é pago nem vinculado em conformidade. As grandes empresas, sabem disto e tanto assim é que, algumas obrigam a assinar acordos de confidencialidade em que o trabalhador jamais dirá para que empresa trabalha! Será que têm vergonha de associar o nome das suas marcas a este tipo de exploração?

Trabalham para grandes empresas sem nunca trabalharem nelas! Tudo isto, claro está, é do conhecimento de todas as entidades que deveriam intervir para impedir a exploração, nomeadamente o governo que, para além de não regulamentar a contratação em regime de Outsourcing, ainda a utiliza, como é o caso da Segurança Social.

Isto tem de acabar, porque se assim não for, corremos o risco de as empresas poderem ter centenas e milhares de trabalhadores a trabalharem para si sem que nenhum tenha vínculo laboral com ela.

É isto que queremos para nós trabalhadores?

É isto que queremos deixar aos nosso filhos e às gerações vindouras?

NÃO!!!!

Vamos à Luta!!!

Nota: No âmbito da Semana de Luta Contra a Precariedade, terão lugar no dia 5 de Dezembro em Lisboa e no dia 6 de Dezembro no Porto, entrega de documento junto da ACT na Avenida da Boavista pelas 15h30, que exige de todos um redobrado esforço de mobilização como acção de encerramento da semana de luta.

 

É possível aumentar os salários

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Sinttav (Sindicato nacional dos trabalhadores das telecomunicações e audiovisual) e membro da Coordenadora Nacional de Trabalho do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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