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Call Centers: e depois da Greve?

No passado dia 31 de outubro, trabalhadores e trabalhadoras de Call Centers portugueses decidiram desligar o telefone. Exigiram o século XXI naquela greve. E isso correspondia a uma ideia tão simples: respeito e direitos laborais.

Desligámos o telefone porque aprendemos a comunicar. Todos sabemos que não é tarefa fácil organizar trabalhadores altamente precários, contratados através de empresas de trabalho temporário, sem um vínculo direto à empresa para a qual prestam um serviço. Por isso é que esta greve dos trabalhadores de call center foi um passo de gigante no movimento dos trabalhadores em Portugal.

O direito à greve ou o direito a desligar (ficar offline, em jargão de call center) está longe de ser um dado adquirido ou que aparente fazer sentido para alguns trabalhadores desta área. Esse combate encontra várias barreiras, uma delas é a desinformação deliberada da empresa de forma a desmotivar e dividir aqueles que ensaiam um espaço coletivo de reivindicação.

Não é fácil sentir os minutos contados - até para ir à casa de banho, a pressão e o insulto permanente sobre quem todos os dias atende dezenas de chamadas. A par do normal desgaste derivado da pressão, o clima vivido torna-a uma profissão de risco tanto a nível físico como mental. Não é verdade que qualquer um pode ou consegue exercer a profissão de teleoperador. Muitas vezes estes trabalhadores são extremamente qualificados e engajam-se em processos de formação contínua, com variações nas tarefas que executam sem que exista um aumento salarial que acompanhe estas mudanças no seu serviço. Entre as “ilhas de computadores”, ecoam vezes sem conta as vozes daqueles que, com medo, receiam arriscar um pedido de aumento de salário ou melhores horários. Não é fácil mobilizar trabalhadores para uma greve numa das profissões que mais jovens e mais precários alberga em Portugal. Isso significa um redobrado sentido de organização no futuro próximo. A vitória da coragem sobre o medo levou milhares de trabalhadores a fazerem greve. Agora é tempo de não deixar esmorecer isso e insistir numa organização, empresa a empresa, piso a piso, secretária a secretária, que garanta uma maior unidade na ação.

No passado dia 31 de outubro, trabalhadores e trabalhadoras de Call Centers portugueses decidiram desligar o telefone. O barulho desse silêncio fez-se sentir num Portugal precário e desigual. Exigiram o século XXI naquela greve. E isso correspondia a uma ideia tão simples: respeito e direitos laborais.

É necessário agora juntar estes e estas trabalhadores e trabalhadoras e em conjunto juntar problemas, ideias e debate para não deixar esmorecer a força e a vontade de lutar que surgiu desta greve que silenciou por um dia dezenas de empresas de outsourcing por todo o país.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda, Mestre em Estudos Anglo-Americanos e Operadora de Call-Center
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