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A ciência dos facilitadores

O desenvolvimento dos Açores passa pelo conhecimento e pelo desenvolvimento de uma economia especializada em que a ciência e a tecnologia têm um papel fulcral.

Uma região arquipelágica e ultraperiférica como a nossa não terá possibilidades de competir pela massificação da produção e pelo preço. As monoculturas que os Açores viram ao longo dos séculos têm riscos não podem constituir um modelo de desenvolvimento.

Ora, é no conhecimento e na tecnologia que está o nosso futuro. E não é apenas para o desenvolvimento de novas atividades económicas. É também e ainda para suportar e desenvolver os setores existentes. Veja-se o papel da Universidade dos Açores na investigação em setores como a agricultura e para as pescas. É imprescindível esse papel no cumprimento das obrigações do Estado na gestão dos recursos marinhos. Pena é que a região nem sequer dê condições dignas para esse trabalho ser feito. Veja-se o caso do navio oceanográfico Arquipélago: a Portos dos Açores nem disponibiliza um local fixo decente de amarração para o navio na Horta, seu porto base, para não falar dos problemas típicos dos 30 anos de idade deste navio.

Nos últimos anos têm sido vários os projetos anunciados para a ciência, muitos com o Governo da República como impulsionador. Do AIR Center, ao Observatório do Atlântico, até ao porto espacial em Santa Maria. A propaganda foi muita mas quando vamos ver o que existe de concreto, este aparente impulso na ciência e tecnologia transforma-se num passo de caracol.

Senão, vejamos. O AIR Center é uma associação privada sem fins lucrativos e segundo o próprio Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, é um “facilitador”. Desengane-se quem esperava que esta instituição fosse uma verdadeira instituição de investigação e desenvolvimento, o que se criou foi um centro de contactos, ou call center sofisticado, se preferirem.

No que respeita aos investimentos na área aeroespacial, embora ainda se desconheça objetivamente o que será (e se será) o porto espacial de Santa Maria, adivinha-se que alguns impactos positivos poderão existir na ilha, não esquecendo que é imperativo garantir a segurança e um reduzido impacto ambiental. Mas o grosso dos investimentos, que têm impactos significativos na economia, serão feitos fora dos Açores. Basta lembrar o anunciado laboratório de desenvolvimento de microssatélites projetado para… Peniche.

No entanto, o projeto que poderia mudar a face da investigação e desenvolvimento ligadas ao mar - uma instituição de dimensão nacional e internacional - como há muito propõe o Bloco - está a seguir o caminho da irrelevância pelas mãos do Governo da República e do Governo Regional do PS.

Chamou-lhe o Ministério do Mar de “Observatório do Atlântico”. Nem a comissão instaladora instalou fosse o que fosse, nem se sabe o que fará. Só se sabe que será uma associação privada sem fins lucrativos e terá 2 ME de financiamento internacional, mas não se sabe para que projetos.

Será mais um “facilitador” a juntar ao AIR Center. Estes projetos de “facilitação” só servem para facilitar o saque aos nossos recursos, porque enquanto marcamos passo, há quem ande a estudar o que explorar, quando e como, nos nossos mares. Essa é a concorrência que temos de temer, aquela que levará dos Açores os nossos recursos.

Sobre o/a autor(a)

Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia Regional dos Açores e Coordenador regional do Bloco/Açores
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