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Escolhemos em Coimbra, escolhemos no país

A falta de contratação de obstetras para as maternidades de Coimbra e a “racionalização de meios” do serviço de pneumologia são rostos, em Coimbra, do que é um serviço público de importância essencial amarrado ao cumprimento de metas orçamentais impostas por Bruxelas.

Faz agora uma semana, o país ficou a saber que as urgências de obstetrícia de uma das duas maternidades em Coimbra iriam encerrar em dois dias por falta de especialistas para que o serviço pudesse funcionar. O encerramento só não se verificou porque um obstetra se ofereceu, por amor à camisola, para colmatar a lacuna inviabilizadora da escala. Por estes dias também, o país ficou a saber que o Serviço de Pneumologia de um dos polos hospitalares de Coimbra vai ver drasticamente diminuída a sua lotação de internamento, que será concentrado no outro polo hospitalar da cidade, já sobrelotadíssimo.

Somos todos Centeno, não somos? A falta de contratação de obstetras para as maternidades de Coimbra e a “racionalização de meios” do serviço de pneumologia dos dois polos hospitalares da cidade (leia-se, o esvaziamento da resposta de um e a sobrecarga do outro) são rostos, em Coimbra, do que é um serviço público de importância essencial amarrado ao cumprimento de metas orçamentais impostas por Bruxelas e ao deslumbramento do Governo de exibir virtuosismo de contração ainda mais apertada que a decorrente das tais metas.

O que vamos decidir nas eleições de outubro é essencialmente se premiamos e reforçamos esta orientação ou se a corrigimos nos seus fundamentos e nos seus resultados. Uma maioria absoluta do Partido Socialista – que faz da política orçamental de Mário Centeno o seu trunfo eleitoral principal, quase elevado á categoria de dogma – será um aval óbvio à adoção dessa política sem constrangimentos. Justiça seja feita a António Costa e a muitos dirigentes do PS: têm dito com clareza que querem uma maioria “clara” ou “inequívoca” para que o PS se livre dos tais constrangimentos que a esquerda lhes estabeleceu na legislatura que agora termina. Chamam a esses constrangimentos “ingovernabilidade”, palavra com que querem dizer exatamente o mesmo que Passos Coelho pretendia anunciando o “diabo”.

O investimento na contratação de obstetras para as maternidades de Coimbra e o combate contra o esvaziamento de facto do Hospital Geral dos Covões são partes de uma escolha política diferente dessa. É a escolha de quem sabe que aquilo a que os adeptos da maioria absoluta chamam ingovernabilidade é, na verdade, a determinação de puxar a política para a garantia da efetividade dos direitos das pessoas que é a sua segurança no dia a dia. É a escolha de quem sabe que só uma esquerda com um poder de negociação política forte pode dar essa garantia.

Artigo publicado no diário “As Beiras” a 31 de agosto de 2019

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
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