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Fazer a diferença

Reforçar quem faz a diferença é, neste domingo, a única escolha que premeia o mérito e nos permitirá exceder expectativas.

A primeira escolha para as eleições do próximo domingo passa também por perceber a incomodidade num sofá gasto. Haverá quem prefira sentar-se entre palavras cruzadas numa falsa ideia de bem-estar, permitindo que se elejam os mesmos carrascos para a Europa de sempre, premiando os responsáveis pela Europa que nos trouxe até aqui. A Europa em penitência. Assimétrica, desregulada, autómata e autofágica, a saque pelos piores instintos predadores da especulação e da xenofobia, moeda sem cara nem face, entretanto de muros e muralhas. Sem clima, sem alternativas, sem trabalho, sem segurança, protecção ou futuro. Mesmo assim, ainda um passo atrás do declínio do império americano. Convém estimá-la.

A ideia de uma Europa de todos, foi-se. Foi-se enquanto o PS crava a sua rosa-punho numa seara alheia. A presença e alinhamento do PS português com a Direita europeia durante todos estes anos é bem revelador de como o Partido Socialista meteu, lá como cá, o projecto europeu numa gaveta. Algo que não faria o PSD ou o CDS corar de vergonha perante tamanha genuflexão. Já estes, alinhados nos interesses que permitiram a falência de uma ideia de Europa plenamente democrática e inclusiva, olham para a extrema-direita que ascende, tal e qual como os parentes próximos olham para a família que se desagrega: ninguém sabe verdadeiramente onde pertencem ou onde estão. E, tantas vezes, é nestes partidos ditos "tradicionais" de centro-direita que germina o caldo político para a emergência dos piores extremismos. Saem do seu ventre, premiados por anos de permanência sem punição (atente-se ao exemplo do Vox espanhol, nado e criado dentro do PP). É também esse mundo de hesitações perante a barbárie que os faz merecedores, como corresponsáveis públicos, de um cartão vermelho no próximo domingo.

Em Portugal, a ideia de voto útil morreu com os acordos à Esquerda. Nas eleições europeias, esta convicção é uma evidência. Perante as últimas sondagens, o grau de arrependimento do PSD e CDS em fazer destas eleições um ponto de partida para as legislativas, cresceu em flecha. Rui Rio prefere a ideia de que tem o Mundo contra si, reclamando que as sondagens parem de brincar com o PSD e com a sua pessoa. É evidente a incomodidade com a realidade em projecção. Nuno Melo, talvez por perceber que a sangria no PSD já não tem mais por onde sangrar, prefere atirar-se ao indiscutível mérito de Marisa Matias no Parlamento Europeu, ao invés de disputar o seu eleitorado natural com a ala direita do PSD ou a Aliança.

A possibilidade de manter o seu lugar de eleitor no sofá, caro abstencionista, premiará todos aqueles que fazem da Europa uma rampa de lançamento para boomerangs. Voltam sempre e trazem piores notícias. Reforçar quem faz a diferença é, neste domingo, a única escolha que premeia o mérito e nos permitirá exceder expectativas.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 24 de maio de 2019

Sobre o/a autor(a)

Músico e jurista. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990.
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