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Feminismo, palavra do ano 2019

Precisamos do feminismo para deixarmos de fingir que os comportamentos machistas são normais, que existem papéis sociais determinados ou naturais para mulheres e homens.

Na passada sexta-feira 8 de março, Dia Internacional da Mulher, assistimos às maiores manifestações feministas de sempre em Portugal. Foi uma mobilização extraordinária, com milhares de mulheres a saírem à rua para protestar contra o machismo, as desigualdades salariais e a violência de género, pugnando pela igualdade efetiva. Foram 30 mil e nem uma queria flores.

Para quem esteve presente ou viu as imagens das manifestações da Greve Feminista em Portugal, terá notado que a maioria das pessoas eram mulheres, muitas delas jovens, com cartazes feitos à mão que anunciavam o caráter interseccional do protesto. Não estavam lá apenas pelos direitos das mulheres, sabem que as lutas se cruzam e também se assumem anti-racistas, ecologistas, pela defesa dos direitos LGBTI, ou contra a precariedade.

A indignação e o protesto tiveram igualmente um alvo preciso: o assassinato das mulheres pelos seus maridos e a justiça machista personificada no juiz Neto de Moura. O assassinato de 12 mulheres desde o início do ano, a denúncia de acórdãos que desprotegem a vítima e a noção de que a resposta pública não dá segurança às mulheres vítimas de violência machista deram um sentido de urgência à Greve Feminista.

Por isso, é de assinalar a presença de Catarina Martins e de António Costa na manifestação organizada pela Rede 8 de Março. Não há caminho sem mudanças políticas que acabem com a justiça machista e que não garantam a proteção das vítimas – lembremo-nos da importância que teve quando a violência doméstica se tornou crime público.

Mas esta Greve Feminista foi internacional e contou com mobilizações importantes em vários países. Em Espanha, onde milhões de pessoas participaram nas manifestações, estima-se que mais de 6 milhões de mulheres tenham feito greve. Na Turquia, e apesar da proibição, as manifestações tiveram milhares de pessoas que foram dispersadas à bastonada pela polícia. A Greve Feminista e as marchas repetiram-se em França, em Itália e na Bélgica, e também nas Honduras, na Indonésia e em vários países da América Latina, onde começou o apelo.

Quando as mulheres recebem menos 18% do salário dos homens para a mesma tarefa; quando as mulheres têm menos oportunidades de subir na carreira, raramente chegam à administração das empresas e têm empregos mais precários; quando as mulheres estão menos presentes nos cargos de representação política; quando as mulheres se mantêm como as cuidadoras, realizando as tarefas domésticas, invisíveis e sem retribuição; quando são assassinadas e vítimas de violência no local onde deviam estar mais seguras, a sua casa; quando estamos tão longe da igualdade e tudo isto se passa no século XXI, em Portugal, percebe-se porque é que temos de assumir-nos feministas.

A palavra “feminismo” é já a palavra do ano 2019. Precisamos do feminismo para deixarmos de fingir que os comportamentos machistas são normais, que existem papéis sociais determinados ou naturais para mulheres e homens, ou que os corpos das mulheres devem obedecer a um padrão de beleza.

Precisamos do feminismo para exigir a total igualdade no trabalho, nas tarefas e cuidados domésticos, na justiça, em todas as esferas da sociedade. Precisamos do feminismo para poder cruzar todas as lutas contra a exploração e dar visibilidade a toda a opressão. Não há feminismo sem feministas e aqui estão, aqui estamos, prontas para mudar o mundo.

Artigo publicado em jornaleconomico.sapo.pt a 11 de março de 2019

Sobre o/a autor(a)

Engenheiro e mestre em políticas públicas. Dirigente do Bloco.
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