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A onda das mulheres nos EUA

Ontem, a Marcha das Mulheres saiu à rua pelo terceiro ano consecutivo nos EUA e fez jus ao novo slogan: a onda das Mulheres. Em Nova Iorque, Alexandria Ocasio-Cortez apelou à construção de um caminho de mudança para as eleições de 2020.

A primeira Marcha das Mulheres realizou-se em janeiro de 2017, em Washington, um dia após a tomada de posse de Donald Trump como presidente dos EUA. O discurso racista e profundamente misógino gerou uma onda de indignação que só na cidade de Washington contou com mais de meio milhão de pessoas a aderir à marcha.

Os protestos históricos de janeiro de 2017 encheram as ruas de muitas outras cidades norte-americanas e, além fronteiras, cidades como Paris, Berlim, Londres ou Lisboa foram palco de ações de solidariedade. Mais de 673 cidades em todo o mundo aderiram aos protestos.

A Marcha das Mulheres é um movimento liderado por mulheres que procura facilitar o acesso de novas/os ativistas e organizadoras/es de base que se envolvam com as suas comunidades locais por meio de formação, debate e outros eventos. Tem como missão promover o poder político de diversas mulheres e das suas comunidades para gerar uma mudança social transformadora e está empenhada em desmantelar os sistemas de opressão através da resistência não violenta , da construção de estruturas inclusivas guiadas pela autodeterminação, dignidade e respeito.

Esta experiência muito positiva incentivou novas agências que aumentaram o debate e a participação de pessoas e grupos que despertaram para a cidadania e para a luta pelos direitos das mulheres, por direitos ambientais, por direitos políticos e sociais que contribuíram para a radicalização política.

Em janeiro de 2018 a principal aposta das organizadoras foi a cidade de Las Vegas e o mote “Poder às Urnas” uma vez que a Marcha ocorreu antes das eleições intercalares, a meio do mandato presidencial. Mais uma vez foram organizadas marchas “irmãs” em cidades norte-americanas e em cidades de todo o mundo.

Os resultados das eleições de 6 de novembro nos EUA beneficiaram certamente desta nova mobilização política e social. A título de exemplo podemos referir a eleição para a Câmara dos Representantes de Ilhan Olmar pelo Minnesota, e Rashida Tlaib pelo Michigan, as primeiras mulheres muçulmanas a serem eleitas para aquele órgão. Do Novo México Debra Haaland e do Kansas Sharice Davids são as primeiras mulheres nativas-americanas a serem eleitas. Alexandria Ocasio-Cortez, por Nova Iorque e Abby Finkenauer, pelo Iowa, ambas com 29 anos, são as mulheres mais novas de sempre na Câmara dos Representantes. E ainda Jarid Polis, o primeiro governador do Colorado assumidamente homossexual.

A capacidade de mobilização e de influência da Marcha das Mulheres desde cedo a tornaram um alvo de controvérsia. Este artigo publicado na Vox detalha as críticas mais recentes às suas líderes nomeadamente de anti-semitismo e de má-gestão. Contudo, reconhece o papel da Marcha das Mulheres como parte do movimento de resistência às políticas de Donal Trump.

Interseccional e muito diversa a Marcha das Mulheres é também um local de disputa para o feminismo anticapitalista. Num artigo publicado na Viewpoint Magazine diversas personalidades, entre as quais Cinzia Arruzza, apelaram à participação na marcha de dia 19 de janeiro e à construção de uma luta feminista internacionalista e com uma perspetiva de luta de classes.

Ontem, 19 de Janeiro de 2019, a Marcha das Mulheres saiu à rua pelo terceiro ano consecutivo nos EUA, confirmou o seu potencial mobilizador e fez jus ao novo slogan: a onda das Mulheres. Das muitas reivindicações desta marcha Winnie Wong, uma das organizadoras, destacou as questões da saúde e da importância de um sistema de saúde universal, de um Medicare para todas e todos. Na marcha em Nova Iorque, a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, elogiou a mobilização das mulheres por todos os EUA, fez um discurso de apelo à justiça e à construção de um caminho de mudança para as eleições de 2020.

Precisamos apanhar estas ondas e perceber a importância destas ações para divulgar e manter uma agenda de direitos que não seja apenas reativa mas que promova a cidadania e construção de alianças mais amplas.

 

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Relações Internacionais. Ativista social. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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