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Uma direita, duas estratégias

O estado catatónico a que chegou o PSD é a face direita do rosto português da implosão dos partidos do centro um pouco por toda a Europa.

Até agora, o PS escapou a ser o lado esquerdo desse rosto. E, não tenhamos dúvidas, isso só aconteceu porque a força da esquerda impediu o PS de adotar as políticas com que se apresentou ao eleitorado em 2015, em tudo idênticas às que levaram os partidos congéneres da Grécia, da França, da Alemanha ou da Holanda ao mais completo desastre.

Qual é a raiz última desta crise do PSD? O que desespera os barões que seguem Luis Montenegro é o que dizem ser a brandura de Rui Rio para com o governo do PS. E há nessa crítica uma matriz nostálgica indisfarçável. Na verdade, o que mobiliza os críticos de Rui Rio é a vontade de carregar nas tintas de uma política de retração do Estado e de radicalizar os traços de austeridade contra os direitos do trabalho e os serviços públicos. Essa assumida nostalgia das políticas da troika e do governo de Passos Coelho e Paulo Portas mostra o projeto da direita para o país é a austeridade máxima, contra tudo e contra todos. É em nome desse projeto que os barões montenegristas recriminam a Rio a disponibilidade para negociar acordos com o PS. Austeridade, ponto. Nada de transigências nem de suavizações. Menos direitos e mais autoridade que isso é que é governar.

É a mesma demonização da esquerda que move a outra estratégia que está a ser desenvolvida à direita: a de tudo fazer para que o PS tenha maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. É uma estratégia menos emocional e mais pragmática. Os seus insuspeitos mentores – de António Saraiva a Soares dos Santos ou João Miguel Tavares – não estão de modas: a melhor forma de não terem a esquerda por perto a disputar as políticas não é partilhar a política ao centro, é mesmo concentrar tudo no PS. Afastar a esquerda de perto do governo é verdadeiramente o essencial e a maioria absoluta do PS dá-lhes essa garantia.

Uns e outros mostram como tem sido importante uma esquerda capaz de influenciar e determinar políticas e de impedir o PS de cumprir parte essencial do seu programa eleitoral. E mostram, portanto, que o peso dessa esquerda é a questão essencial em disputa nas próximas eleições.

Artigo publicado no diário “As Beiras” a 19 de janeiro de 2019

Sobre o/a autor(a)

Professor Universitário. Dirigente do Bloco de Esquerda
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