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Contribuir para a igualdade de direitos

Na luta pelos direitos dos seniores e reformados, o caminho será o mesmo, a intensidade outra. O tempo, que marca as nossas vidas, não conta da mesma forma para todos.

Na Convenção agora encerrada, várias foram as contribuições a defender a igualdade como elemento fundamental para a intervenção do Bloco tendo uma delas afirmado de forma liminar que “a igualdade é a essência da política” explicando como a falta de igualdade divide os campos, como a defesa da igualdade pode ser aglutinadora e como a defesa da igualdade divide a esquerda da direita. A defesa da igualdade é uma questão central na política e na intervenção do Bloco. Para a luta dos seniores por melhores condições de vida, por uma vida plena de dignidade, pelo pleno gozo dos direitos sociais, aquela afirmação revela-se simultaneamente como uma denúncia (do caminho ainda a percorrer) e como um mote (para a intervenção política e cívica dos bloquistas). A intervenção sistemática e constante em defesa dos direitos dos seniores, constituindo um grito de alerta para o que temos de fazer, ou continuar a fazer, assume-se sobretudo como uma denúncia sobre o que ainda não foi feito para pôr cobro à situação miserável que abrange 1/4 [um quarto] da população portuguesa. São as pensões baixíssimas, a habitação inexistente ou inabitável, a saúde e os cuidados médicos por cumprir, a mobilidade inexistente.

Seja na base, nas várias estruturas organizativas do Bloco e no Parlamento, as intervenções em defesa dos direitos dos seniores têm vindo a ser cada vez mais articuladas e fundamentadas e regozijamo-nos que assim seja. No entanto, apesar da crescente atenção, os idosos continuam a ser muito esquecidos, marginalizados, até hostilizados no conjunto da sociedade. Para muitos concidadãos (demasiados) seria mais cómodo olhar o sénior como descartável. Conhecendo este estigma, então, reconheceremos que o nosso esforço dentro do Bloco, para a completa inserção cívica dos seniores, nas vertentes social e económica, ainda é insuficiente. Quando lutamos para ir mais longe, afrontamos o estado social de cariz caritativo tão acarinhado à direita, demarcamo-nos claramente das políticas de direita e estamos a fazer a diferença. Os direitos são iguais para todos e é no dia-a-dia que temos de o provar e impor.

O tempo urge porque Outubro de 2019 está aí mesmo. A preparação do programa eleitoral do Bloco não tardará e, portanto, é determinante para os nossos objectivos que sejamos claros, ousados e realistas, nas soluções que hão-de ir a votos. Se o nosso trabalho atender à ansiedade das pessoas, se as propostas responderem às reais necessidades das pessoas, estaremos em condições de alterar a relação de forças e, no fundo, é esta equação que vai estar sobre a mesa. Para cada área de intervenção, seja na habitação, na saúde, na mobilidade, na segurança social ou nas pensões, há que considerar soluções específicas e inclusivas para os idosos. Propostas nas quais eles se revejam e confiem. Os idosos dispensam capítulos à parte num programa político de esquerda porque à parte já eles estiveram tempo demasiado. À parte sentem-se eles todos os dias; o que mais querem é ser tratados em pé de igualdade com todos os outros cidadãos. A única diferença entre os idosos e todos os outros, é a vulnerabilidade dos idosos. Bem vistas as coisas, somos todos idosos ou há por aí alguém que se julgue for ever young?!

A questão das pensões voltará, sem dúvida, a ser central obrigando-nos a encará-la em duas frentes. Por um lado, continuaremos a resolver a situação daqueles que hoje estão reformados na linha que tem vindo a ser prosseguida pelo Bloco; por outro lado, equacionaremos propostas que visem um sistema de reformas no futuro, assegurando tranquilidade e estabilidade. A uma acção de maior pendor táctico que temos desenvolvido, teremos agora de contrapor uma intervenção estratégica. Umas e outras propostas, sempre equacionadas na defesa intransigente dos direitos dos seniores e reformados, exigem agora ser complementadas com a garantia da dignidade e igualdade porque em um verdadeiro estado social, ninguém fica para trás.

Sobre o/a autor(a)

Bibliotecária aposentada. Activista do Bloco de Esquerda. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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