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Orbán ataca os Estudos de Género

Autoritário e xenófobo o regime húngaro avançou recentemente contra as Universidades que lecionam Estudos de Género revelando outros atributos da sua política: a misoginia e a LGBTIfobia.

As eleições legislativas húngaras, realizadas em abril deste ano, reforçaram a posição do primeiro-ministro, Viktor Orbán, eleito para o terceiro mandato consecutivo. Viktor Orbán afirma que o principal objetivo do seu governo é a preservação da cultura cristã do país e, desde então, têm sido várias as tentativas de criminalizar as pessoas sem-abrigo e tem aumentado a perseguição a ONGs na Hungria, que defendem os direitos das pessoas refugiadas e imigrantes.

Autoritário e xenófobo o regime avançou recentemente contra as Universidades que lecionam Estudos de Género revelando outros atributos da sua política: a misoginia e a LGBTIfobia. Não podemos dizer que são uma novidade dadas as alterações constitucionais que preveem que a vida de um feto deva ser protegida desde a conceção e que a instituição do casamento existe entre o homem e a mulher.

O regime de Viktor Orbán propôs uma legislação que prevê o encerramento dos programas de Estudos de Género nas Universidades na Hungria. A proposta irá ter impacto primeiro na Universidade Eötvös Loránd (ELTE), em Budapeste, que é a única instituição que leciona em língua húngara, e depois na Central European University que é a outra instituição que confere graduação em Estudos de Género.

O argumento usado para banir os Estudos de Género é a racionalidade económica, argumento já utilizado em 2017 quando Lőrinc Nacsa, o então líder da juventude do partido democrata-cristão (KDNP) parceiro de coligação do Fidesz (partido do governo), apelidou os estudos de género da ELTE como um desperdício luxuoso e um perigo para os valores tradicionais dos países da Europa central segundo um artigo publicado no portal Imprensa Livre da Hungria.

Andrea Peto, professor de estudos género na Central European University, disse ao jornal The Telegraph que a proposta do governo viola a Constituição da Hungria que protege a autonomia e a liberdade académicas.

A preocupação e a solidariedade académicas já se fizeram ouvir. A Associação Europeia de Sociologia emitiu um comunicado onde aconselhou o governo a reconsiderar a sua proposta, recordando que as diferenças de género são um problema estrutural e que um ataque aos Estudos de Género é também um ataque às Ciências Sociais no seu todo, como assinalou Ana Cristina Santos, no seu artigo, no jornal Público.

De assinalar também a carta dirigida ao Ministro da Educação da Hungria, assinada por 119 responsáveis por programas de Estudos de Género, entre as quais Adriana Bebiano, da Universidade de Coimbra, responsável pelo Doutoramento em Estudos Feministas. Para além de manifestarem solidariedade com os colegas e as instituições académicas na Hungria, defendem a área de estudos e a sua importância para a ciência e o progresso e bem-estar das sociedades humanas.

É importante ampliar a denúncia e a oposição à proposta do governo húngaro para que o conhecimento posso enfrentar o obscurantismo político, que impera em vários países da Europa e que pretende um regresso a um passado que não queremos.

Sobre o/a autor(a)

Licenciada em Relações Internacionais. Ativista social. Escreve com a grafia anterior ao acordo ortográfico de 1990
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