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O Futuro do Trabalho

A 5 de maio comemora-se os 200 anos do nascimento de Karl Marx; nada melhor do que debatermos o Futuro do Trabalho1, sobre os impactos e as implicações do salto tecnológico 4.0, nas mudanças na cadeia de valor e na divisão do trabalho no quadro global em que vivemos.

Há muito que se quebrou a velha unidade em torno da chaminé da fábrica e do bairro operário. As deslocações pendulares casa-trabalho-casa passaram a consumir dezenas de quilómetros e várias horas diárias (não pagas) que se somam à jornada de trabalho, dado que a aceleração da difusão das novas tecnologias, induziu transformações no trabalho, segmentação dos assalariados, questionando mesmo as fontes tradicionais de recrutamento social e laboral.

Aprofundaremos a apropriação privada do conhecimento, em que o capital tomou a dianteira na implementação desse salto tecnológico, novas formas de criação de valor, ao mesmo tempo que se debatem problemas de organização do trabalho, a relação do trabalhador enquanto produtor de valor e seu consumidor e a relação emprego/desemprego (preconizada na cimeira de Davos de 2016 de perspetivas “aterradoras” para o futuro), assim como o nascimento de novas profissões e o términos de outras.

O Banco Mundial, no draft do Relatório para o Desenvolvimento Mundial/2019 para combater o “avanço dos robôs”, propõe reduzir ou extinguir os salários mínimos e facilitar a contratação e os despedimentos, flexibilizando as leis laborais.2

A classe que vive do trabalho3 tem vindo a diversificar-se, mas sujeita a uma brutal exploração, elevando como nunca a produtividade. Esta classe inclui o exército industrial de reserva4 e, portanto, os desempregados como parte intrínseca da classe trabalhadora.

A revolução tecnológica 4.0 é um processo inevitável. A sua evolução deve ser enquadrada no quadro global do sistema capitalista e da sua crise sistémica, com a sua lógica, prática e consequência exploradora, agressiva e predatória. As transnacionais e multinacionais estão a apropriar-se, via os regimes de patentes e da propriedade intelectual, das mais-valias criadas, aumentando a exploração dos trabalhadores e dos povos.

A contradição fundamental que marca o mundo global está no facto de que nunca antes na história da humanidade se ter produzido tanta riqueza como hoje, estando a sua maior parte concentrada nas mãos de um 1% da população mundial. Desigualdades sociais e de género extremas marcam a nossa época.

Estamos perante a necessidade de uma luta intergeracional que exige a afirmação contra as discriminações de género e a precarização estrutural do trabalho pelo capital, na sua lógica destrutiva e de financiarização da economia. Uma luta que vale a pena travarmos pela transformação e emancipação social para nós e para os nossos filhos.

Marca-se, também, a necessidade de uma resposta coletiva para a qual os sindicatos estão em atraso. É um debate a aprofundar, pois aqueles têm um papel a desempenhar no sistema capitalista. Tem de ser uma organização transformada e transformadora, mais horizontal e digital que permita aprofundar a ligação aos trabalhadores respondendo à (des)regulação do trabalho, na luta pelo pleno emprego e pelo estado social, do reforço da negociação e contratação coletiva e do alargamento da sua cobertura, da proteção social e do reforço do seu financiamento, da educação/formação e da regulação das novas profissões, para que o(s) direito(s) do trabalho sejam respeitados, em suma, a garantia de um trabalho decente.

Fica aqui o convite à reflexão e ao debate sobre o Futuro do Trabalho, no dia 5 maio, às 10,30h, na UACS – União de Associações do Comercio e Serviços (R. Castilho, 14), em Lisboa, no X.º Encontro Nacional de Trabalho, do Bloco de Esquerda.


1 X.º Encontro Nacional de Trabalho do Bloco de Esquerda

2 Jornal de Negócios –Banco Mundial propões baixar salários mínimos para enfrentar robôs

3 Ricardo Antunes – “Os sentido do trabalho” e “Adeus ao trabalho? Vinte anos depois…Entrevista ao “Interview” out/dez.2015

4 Ricardo Antunes – “Adeus ao trabalho? Vinte anos depois…Entrevista ao “Intrview” out/dez.2015

Sobre o/a autor(a)

Deputado municipal em Lisboa. Dirigente do Bloco de Esquerda.
Termos relacionados X encontro nacional do trabalho
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