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A grande reforma (II)

A verdade é que a forma como o Governo está a gerir o dossier Setor Público Empresarial (SPER)… não tranquiliza nenhuma pessoa, minimamente atenta.

No artigo anterior – dedicado às empresas do Setor Público Empresarial (SPER) -, foquei-me, especialmente, no conjunto daquelas que, em minha opinião, não têm razão de existir e só servem para garantir lugares políticos e despesas acessórias. Referia-me, por exemplo, à SAUDAÇOR, SPRIH, IROA, SDEA ou AZORINA, porque todas as tarefas destas empresas podem, muito bem, ser realizadas pelos diversos serviços da administração regional.

Com o anúncio da privatização de algumas outras, o Governo Regional ficou a meio caminho, procurando mais aliviar a pressão a que estava sujeito, do que a avançar para medidas que apontassem um caminho de futuro.

Na chamada “Grande Reforma”, não se vislumbra um caminho de futuro para outros setores, nomeadamente, o setor industrial.

Do chamado SPER, constam duas empresas industriais - a Sinaga e a Santa Catarina.

A história da Sinaga é muito triste. Ao fim de oito anos, temos uma empresa moribunda. com um passivo astronómico de cerca de 27 milhões de euros e sem qualquer futuro.

Porque defendo que manter setores industriais, na Região, é importante para o futuro da nossa economia, bem como ter capacidade instalada na agroindústria, apoiei a entrada de capital público, na Sinaga, na expectativa de que pudesse ser uma alavanca para a necessária diversificação do nosso setor primário.

Todavia, 8 anos e cerca de 15 milhões de euros depois, não houve capacidade de reconverter a empresa para outras atividades, ficando claramente mostrado que a intervenção governamental foi feita, com o único objetivo de salvar os antigos donos. Vá-se lá saber porquê…

Se tivesse que classificar a atuação, quer das administrações, quer do Governo Regional, chamar-lhe-ia ‘incompetência’ (pura e dura)…e isto para ser benevolente. Nunca destas entidades se ouviu a apresentação (com pés e cabeça) de um plano para a empresa. E nem mesmo hoje, recebemos qualquer tipo de justificação para o queimar de 15 milhões de euros do erário público.

É muito interessante que a ‘Grande Reforma’ e o seu respetivo plano nada diga sobre este escandaloso ‘elefante branco’, nem sequer sobre a manutenção de três administradores, para dirigirem o empacotamento de açúcar e supervisionarem 27 trabalhadores! Este silêncio acaba, afinal, por ajudar a descredibilizar todo o referido plano e, para além disso, diz muito sobre o Governo, sobre alguns partidos da oposição e até sobre os sempre influentes e ativos dirigentes associativos dos empresários…

O Governo propõe-se, também, vender a Santa Catarina. Felizmente, esta empresa teve uma progressão diferente da Sinaga.

Acontece, porém, que, seja pelo volume de emprego que assegura (cerca de 200 trabalhadores, a maioria mulheres), seja pelo impacto direto e indireto que tem, na economia da ilha de São Jorge, esta empresa é de uma importância vital para esta ilha e para a Região.

A inegável importância da Santa Catarina não se compadece com jogadas partidárias, feitas em cima do joelho e para responder a pressões políticas – como, a cada dia que passa, mais comprova a chamada “Reforma do SPER”.

Esperemos todos/as que Santa Catarina não seja, por cá, o que a Triumph foi, na República. Esperemos que Santa Catarina não seja a peça frágil, nos negócios do governo com a Cofaco. A bem da coesão regional, da vida daquelas trabalhadoras e da economia de São Jorge, esperemos que cenários mais negros não se confirmem.

A verdade é que a forma como o Governo está a gerir o dossier “SPER”… não tranquiliza nenhuma pessoa, minimamente atenta.

Sobre o/a autor(a)

Dirigente do Bloco de Esquerda. Deputada à Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, entre 2008 e 2018.
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