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Exatamente quanta informação reuniu o Facebook e a Google sobre si? Vai ficar assustado.

Que a Google e o Facebook reúnem informação privada já não surpreende ninguém, mas o volume de informação reunida apenas por estas duas multinacionais está a surpreender mesmo os profissionais da área. Aqui fica um guia para tentar controlar a sua informação privada.
O Arquiteto, em Matrix Reloaded.
O Arquiteto, em Matrix Reloaded.

Dylan Curran, um consultor e web developer, foi investigar exatamente que informação tanto a Google como o Facebook tinham reunido ao longo dos anos sobre ele. Começou por verificar o histórico de localização que a Google reúne desde o primeiro dia em que abrimos a nossa conta da Google no telemóvel, e descobriu uma timeline com todos os locais para onde se deslocou nos últimos doze meses, incluindo todas as deslocalizações ao longo do dia. Pode fazer essa pesquisa aqui: https://www.google.com/maps/timeline?pb

Depois, foi analisar o histórico de buscas que realizou na Google, dados que a empresa arquiva numa base de dados separada, o que quer dizer que, mesmo que um utilizador apague o seu histórico, a Google conserva a informação a menos que o utilizador apague toda a informação em literalmente todos os dispositivos em que tenha realizado buscas com conta identificada da Google. No caso de Dylan, a Google tinha todas as palavras de pesquisa alguma vez realizadas pelo próprio desde 2009. Pode fazer essa pesquisa aqui: https://myactivity.google.com/myactivity.

Adicionando a informação pessoal - idade, profissão, rendimento, interesses pessoais, relações pessoais, peso, saúde, etc -, é essencialmente com estas três fontes de informação que a Google cria um perfil comercial para cada utilizador dos seus serviços, e é com base nesse perfil que a Google define os anúncios específicos para o utilizador (disponíveis para analisar aqui: https://adssettings.google.com/). Algo que a Cambridge Analytica aplicou de forma eficaz para a campanha de Donald Trump.

Reúnem também informação sobre a utilização de cada aplicação no telemóvel: quanto tempo a utilizam; com que regularidade; onde; e com quem interagem através da aplicação (com quem falamos através do facebook, com que países, ou até a que horas vamos dormir).

A Google reúne também todo o historial de utilização do YouTube e as conclusões possíveis sobre esse historial, conseguindo definir se o utilizador vai ser mãe ou pai, a sua filiação política ou religiosa, ou ainda se tem tendência depressiva ou mesmo suicida. No caso de Dylan, tinham os registos de todos os vídeos vistos desde 2008. Pode eliminar o histórico, ou colocá-lo em pausa, aqui: https://www.youtube.com/feed/history.

Qualquer utilizador pode descarregar toda a informação do seu perfil da Google (aqui: https://takeout.google.com/), o que, para Dylan Curran, significou 5,5 gigbytes de informação, ou cerca de 3 milhões de documentos Word. Estes documentos incluíam todos os contactos e moradas de internet, todas as fotos tiradas no telemóvel, todas as compras realizadas na internet e através de que plataforma, bem como dados de pagamento.

Incluía também toda a informação de calendário, todas as conversas no Google chat e hangout, os grupos em que está, os sites que criou, as páginas de internet que partilhou (para além das que visitou, obviamente), quantos telefones já utilizou (e a informação específica de cada um), ou até quantos passos dá por dia.

O Facebook permite também descarregar a sua informação pessoal. No caso de Dylan, resultou em aproximadamente 600 megabytes de todas as mensagens enviadas ou recebidas, todos ficheiros enviados ou recebidos, todas as mensagens audio enviadas ou recebidas bem como todos os contactos armazenados no telemóvel (Por razões difíceis de explicar, armazenam também todos os stickers e emojis utilizados pelo utilizador). Com base nesta informação, o Facebook define um conjunto de palavras-chave sobre os potenciais interesses do utilizador.

Reúnem também um diário com todos os login realizados, incluindo informação da localização, hora, e dispositivos onde foi realizado. Além disso, registam a informação de todas as aplicações com as quais estabeleceu ligação com o Facebook, incluindo, por exemplo, as relações que um utilizador estabeleceu através do Tinder e com quem.

Tudo isto significa o quê? No caso de Dylan Curran, e no da larga maioria de utilizadores destes serviços, significa que a Google tem, por exemplo, todas os e-mails alguma vez enviados ou recebidos, incluindo os que foram eliminados ou considerados spam pelo utilizador, ou ainda todas as fotos - incluindo as eliminadas - alguma vez tiradas em qualquer dispositivos ligado à rede. Significa também que armazenam todos os ficheiros colocados na nuvem - incluindo os ficheiros eliminados -, bem como, no caso de Dylan, uma chave encriptada que ele utilizava para proteger e-mails. Ou seja, em última análise, a encriptação de nada serve perante o poder da Google. E sim, tanto a Apple como a Microsoft obedecem ao mesmo padrão Google e Facebook.

(...)

Neste dossier:

Ghost in the Shell, de Mamoru Oshii.

Google e Facebook - a privatização da privacidade

O período de consentimento e participação na maior operação de invasão da privacidade alguma vez operada na história da humanidade parece ter sofrido o seu primeiro momento de crise. Dossier organizado por Tiago Ivo Cruz. 

Mark Zuckerberg ao lado do número de utilizadores do Facebook, Instagram, WhatsApp, Messenger, e Groups, em Março de 2015. Foto de Maurizio Pesce / Wikimedia.

Nem sequer precisaram de piratear o Facebook

“A Cambridge Analytica pirateou a nossa informação online para ajudar à eleição de Donald Trump. É um escândalo, mas não é nada de novo”. Artigo de Branko Marcetic publicado em Jacobinmag.com.

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Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. Fotografia da sua página oficial no Facebook.

Zuckerberg admite erro do Facebook

Após dias de silêncio, o fundador do Facebook veio referir-se ao escândalo com a empresa Cambridge Analytica, reconhecendo que a empresa cometeu erros e que tem a obrigação de garantir a segurança dos dados dos utilizadores.

Mark Zuckerberg, presidente e fundador do Facebook, fala durante o lançamento de produto Oculus Connect 4 em San Jose, California, numa quarta-feira, 11 de outubro de 2017.

Facebook ocultou páginas onde promovia a sua capacidade de influenciar eleições

Até recentemente, "havia uma secção inteira do site dedicada a divulgar as “histórias de sucesso” de campanhas políticas que usaram a rede social para influenciar resultados eleitorais" no Facebook. Um artigo de Sam Biddle publicado no The Intercept.

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