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Para alguns, a medalha, para outros, o reverso
Embora a questão da descoberta do continente australiano por Portugueses possa suscitar fundadas dúvidas, encontra-se amplamente confirmada a “descoberta”, pelos governantes portugueses, da existência de professores de Português na Austrália, pois já em 2010 um professor neste país foi condecorado pelo antigo Presidente da República, Cavaco Silva, pelos serviços prestados no âmbito do ensino da língua de origem.
Visto que o ensino das línguas de emigração tanto na Austrália como no Canadá, Estados Unidos e Venezuela se encontra exclusivamente a cargo das entidades locais, sem que o Governo português tenha qualquer influência na colocação e remuneração dos professores, sendo assim também alheio ao tipo de ensino ministrado, manuais, sistema de avaliação, etc, admira que só em 2010 se tenham lembrado que esse professor, ou professores, existiam, para depois os condecorarem.
Mas realmente assim sucedeu, tendo o procedimento sido alargado aos professores de Português no Canadá que têm, desde 2015, vindo a ser homenageados e agraciados com vários tipos de medalhas e condecorações.
Nesse país, em cerimónias de agraciamento a professores já aposentados, pelas suas carreiras ao serviço da língua e cultura portuguesas, receberam os mesmos a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas.
Mais recentemente, também no Canadá, uma professora com 42 anos de serviço foi condecorada duas vezes, com a Medalha de Ouro pelo Governo português e o Prémio Carreira pelo Instituto Camões.
Evidentemente, nada há a obstar que profissionais competentes sejam premiados por bons serviços prestados, seja em que campo for.
Qualquer trabalhador gosta de ver que o seu trabalho é reconhecido, respeitado e, porque não, recompensado.
Mas o que realmente causa estranheza neste caso é que os citados prémios e medalhas parece estarem exclusivamente destinados ao Canadá e à Austrália, pois nos outros países nada há a relatar de semelhante.
E também é de estranhar todas estas homenagens dirigidas a professores que nunca foram colocados nem remunerados pelo Governo português.
Na verdade, os únicos profissionais da área do ensino colocados e pagos tanto no Canadá como na Austrália pelo Instituto Camões são, desde 2010, os Coordenadores de Ensino, que têm como função, uma vez por ano, organizar o processo de certificação, que basicamente consiste em vender aos lusodescendentes nesses países, por 80 ou 100 euros, certificados atestando o nível de conhecimentos dos mesmos em Português Língua Estrangeira, que são inúteis para ingresso nas escolas ou universidades em Portugal, não relevando para o progresso escolar nos países de acolhimento.
Mas, por estranho que pareça, em tantos países onde o Instituto Camões, e dantes o Ministério da Educação, colocam e pagam os professores de Português, não há medalhas, nem menções honrosas, nem homenagens, nem nada para ninguém.
Muitos e muitos professores se reformaram depois de trabalhar 40 e mais anos no sistema, depois de terem dedicado a sua vida e a sua carreira a transmitir aos seus alunos o amor pela nossa língua e pela nossa cultura, depois de terem organizado festas, excursões e viagens a Portugal, depois de, incansavelmente, fazer a tão importante “ponte”, a ligação entre o país de acolhimento e o de origem.
Tiveram alguma coisa? Absolutamente nada. Reformaram-se e foram-se embora, sem sequer uma pequena festa, uma homenagem por mínima que fosse.
Inclusivamente, nem sequer tiveram direito ao pagamento do subsídio de regresso, que consta na legislação em vigor mas que o Instituto Camões se recusa terminantemente a pagar, reservando-o aos Coordenadores, que, visto auferirem um vencimento duas vezes superior ao de um professor, poderiam suportar uma despesa que para os docentes, contemplados com vencimentos mínimos, é incomportável.
Como comprovativo dos exíguos vencimentos dos professores do EPE, serve bem, como exemplo prático, o facto de um professor em Espanha, com menos de 15 anos de serviço, receber um salário quase idêntico ao de um nadador-salvador em Portugal durante a época balnear.
Para uns, medalhas de ouro. Para outros, nem sequer o pagamento dos subsídios que lhes caberiam por direito, e muito menos o direito a um salário digno.
Para uns, homenagens. Para outros, a perca do lugar de trabalho devido à falta de alunos ocasionada pela Propina ou, muito simplesmente, o despedimento originado por alegada falta de meios por parte da tutela.
Assim, há a constatar que uma das constantes do Instituto Camões é realmente o tratamento preferencial.
Basta ver o caso da vergonhosa “Propina”, que os alunos portugueses pagam mas da qual alunos estrangeiros em França, em Espanha e na Alemanha estão dispensados.
E também o caso dos professores, relegados para prioridade inferior nos concursos em Portugal e, ao que tudo indica, longe de verem os seus vencimentos atualizados, além de estarem privados de usufruir das leis de proteção à família e à maternidade, pois os ditames economicistas do citado Instituto continuam na ordem do dia.
Para uns há a medalha, para outros, apenas o reverso.
Este fim de semana, o novo Presidente do Camões e o SECP José Luís Carneiro estiveram na Suíça, para contactos com a Comunidade que não incluiram os professores, não estando também prevista nenhuma distribuição de medalhas
Artigo publicado em Luso Jornal a 19 de fevereiro de 2018
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É lamentável a forma como os
É lamentável a forma como os docentes do EPE estão a ser tratados. Realmente não são condecorados, mas o que é mais revoltante é a precaridade das suas condições de vida e de trabalho. Baixos salários e cada vez mais trabalho administrativo, mais turmas, menos tempo de aulas e mais níveis de escolaridade para cada uma.
A implementação da propina veio aumentar significativamente o tempo de trabalho que já ultrapassa o da componente não-letiva, obrigando os professores a uma tarefa que não só não é da sua competência, como lhe coloca problemas de ética:
Como se sente um professor, funcionário do Estado Português, que leciona numa instituição pública quando pede aos seus alunos os comprovativos de pagamento da propina para os digitalizar e enviar para as coordenações de ensino a fim que os mesmos sejam validados? ´
É que,se os alunos não forem validados, o professor corre o risco de não ter horário, pois, o que conta é a validação na plataforma.
Aliás o que conta neste ensino é tudo o que não é essencial, ou seja: as numerosas tarefas colocadas na plataforma: relatórios, associação de alunos a turmas, caracterização das turmas, mapas horários, base de dados, listas de alunos, sumários etc... A maior parte do trabalho docente é administrativa, o resto, divide-se entre as deslocações para os vários locais de aulas, as formações, as cerimonias de entrega de certificados ao sábado, as provas de certificação, também ao sábado, etc... Quando se encontram, os professores pouco falam do que fazem nas aulas, perguntam uns aos outros se já fizeram esta ou aquela tarefa porque o prazo de entrega está a acabar.
Prima o supérfluo em detrimento do essencial que é a aprendizagem dos alunos.
É verdade que, com tantas tarefas, tantos níveis, tantas turmas e tantas deslocações, os professores não têm tempo suficiente para dedicar ao ensino e aos alunos, mas, como o essencial é manter uma plataforma em ordem e mostrar os eventos, saber se os alunos tornou-se secundário.
Basta folhear um manual de qualquer nível para se ver como está o ensino. Os manuais são paupérrimos ao nível do conteúdo porque quase não têm textos literários, nem texto propriamente dito. Na gramática confundem-se pronomes pessoais com formas de tratamento, o pronome pessoal "vós" está banido das conjugações, por exemplo.
Além dos professores, os alunos são também vítimas de políticas educativas baseadas na rentabilidade e que não olham a condições humanas. Com este ensino e apesar do esforço dos professores, pouco se pode ensinar e aprender e, em breve, a cerimonia de entrega dos certificados das provas de certificação feitas com poucas condições será uma cerimonia de entrega de certificados de incompetência. Mas será sempre uma bela cerimonia para mostrar nas redes sociais e dizer que está tudo a correr bem no reino do EPE.
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