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A Esquerda Checa é Pirata

Já há largos anos que havia sinais de rebeldia e um espaço de inconformismo na sociedade checa entre os meios mais urbanos. O Partido dos Piratas foi o primeiro partido de esquerda alternativa a ocupar esse espaço, obtendo um resultado espetacular.

Durante o mês que precedeu as eleições legislativas na República Checa, gerou-se na opinião pública checa a expectativa de um grande resultado da extrema-direita xenófoba de um curioso empresário checo-nipónico, Tomio Okamura, uma extrema-direita nacionalista, anti-imigração, anti-islão, antieuropeísta e populista.

No entanto, a maior surpresa foi o terceiro lugar, com entrada de 22 deputados para o parlamento, do Partido Pirata Checo. Desde o fim do regime sob tutela soviética, foi a primeira vez que um partido das esquerdas alternativas obteve um grande resultado na República Checa. Este resultado é tanto mais relevante sabendo a força e a implantação que as ideias neoliberais tiveram no país, especialmente durante a presidência de Vaclav Klaus. O Partido Social Democrata, checo envolvido em escândalos de corrupção e praticando políticas que pouco se distinguem da direita, afundou-se politicamente, passando dos 20% para 7%. O Partido Comunista Checo, um partido extremamente conservador e que frequentemente alinha com direita, em particular na opção pelo nuclear e no discurso antieuropeísta desceu de 15% para 8%. Os Piratas checos passaram a ser o maior partido de esquerda do país.

O Partido Pirata Checo (Česká Pirátská Strana) combate os monopólios dos gigantes da informática e da internet (Apple, Microsoft, Google, Amazon, etc.), defende a utilização de software livre, o reforço do acesso aos serviços públicos pela internet (e-government), pugna pelo reforço de processos de democracia direta (petições, referendos, etc.) bate-se pela transparência e pelo combate à corrupção e aos paraísos fiscais. O programa dos piratas checos inclui também um rol de medidas em defesa dos direitos cívicos e de desenvolvimento do comércio eletrónico, do pequeno comércio e do comércio de circuito curto, menos poluente. No Parlamento Europeu, o único deputado de partidos piratas é a alemã Julia Reda, integrada no Grupo dos Verdes Europeus.

Já há largos anos que havia sinais de rebeldia e um espaço de inconformismo na sociedade checa entre os meios mais urbanos, ligados à cultura, à ciência e às artes, entre algumas dessas manifestações mais mediáticas estão as obras do escultor David Černý caricaturando a política de Vaclav Klaus. O Partido dos Piratas foi o primeiro partido de esquerda alternativa a ocupar esse espaço, obtendo um resultado espetacular. Espera-se agora que não desiluda o eleitorado e que a esquerda comece finalmente a ganhar terreno ao neoliberalismo que ainda domina a República Checa, agora pela mão do empresário Andrej Babiš, vencedor das eleições pelo ANO, um oligarca proprietário de várias cadeias de televisão envolvido em diversos escândalos de corrupção.

Sobre o/a autor(a)

Investigador no Departamento de Física da Universidade de Coimbra
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