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Síntese: o que fica do que se passou nas eleições autárquicas

O PS beneficiou mais que os seus parceiros da “geringonça” de estar a governar num contexto nacional de grande apoio popular às mudanças políticas em curso impulsionadas pela esquerda parlamentar.

No país

Há um grande vencedor, o PS, quase 2 milhões de votos. Dois derrotados, a direita arrastada para um buraco negro pelos humilhantes resultados do PSD, e o PCP que sofre perdas significativas. E dois a quem a noite não correu mal, o CDS que disfarça um mau resultado com a votação de Cristas em Lisboa, e o BE que tem ganhos moderados. A direita tem 104 CMs, a esquerda 187 e listas independentes 17.

O PS beneficiou mais que os seus parceiros da “geringonça” de estar a governar num contexto nacional de grande apoio popular às mudanças políticas em curso impulsionadas pela esquerda parlamentar. Essa é a principal razão do seu melhor resultado de sempre. Mas que traz consigo um sinal de maior exigência para o futuro: o povo quer mais na recuperação de salários, pensões, direitos, emprego, economia e serviços públicos.

O PCP perde 10 câmaras, algumas das quais emblemáticas – Almada, Beja, Barreiro, Vila Franca de Xira e Peniche, por exemplo – baixa de 11 para 9,4%, perde mais de 60 mil votos e 40 vereadores, não chega aos 500 mil votos. Cresce em Lisboa, mas mantendo os dois vereadores. É um resultado pior do que o mau resultado de 2009. Dificilmente poderia ter sido pior para os comunistas.

O Bloco tem um crescimento moderado, não tendo alcançado todos os objectivos a que se propunha. Cresceu em votos (mais 50 mil votos) e em vereadores (de 8 para 12), deputados municipais (de 93 para 120) e eleitos para as freguesias (de 130 para 201) . E elegeu três vereadores no distrito de Lisboa – Amadora, Vila Franca de Xira e a capital Lisboa, este que era o grande desafio do Bloco nestas autárquicas. O eleito, Ricardo Robles tirou a maioria absoluta a Medina. O Bloco integrou a coligação vencedora no Funchal.

17 câmaras foram ganhas por movimentos independentes ou de cidadãos.

Notas muito negativas: a eleição de Isaltino em Oeiras e o crescimento eleitoral do candidato do PSD em Loures, o racista André Ventura.

No Porto

Rui Moreira subiu, tem maioria absoluta, à custa da sangria que fez ao PSD, ao uso e abuso do aparelho camarário e à demagogia a que recorreu. É cada vez mais o homem do CDS e o líder da direita portuense. O discurso de vitória foi à Cavaco, carregado de ajustes de contas, pequenas vinganças e ódios pessoais. Lamentável. Mas este é o verdadeiro Rui Moreira, autoritário e de maus fígados. Faz jus ao absolutismo próprio da sua condição monárquica.

Manuel Pizarro perdeu como era previsível, nem o enorme empurrão do governo, de António Costa e de muitos outros ministros do PS o salvaram. Tem um mau resultado quando comparamos os seus 28,5% com as votações de 2001, 2005 e 2009: 40,2%, 37,3% e 35,5%, respectivamente. Só foi melhor que o de 2013: 22, 7%. Pequena glória. Sendo agora dispensável por Rui Moreira para uma maioria, veremos quanto tempo ficará como vereador. Suspeito que não será muito...

Ilda Figueiredo foi eleita perdendo muitos votos, quase dois mil e um deputado municipal. Ao contrário, João Teixeira Lopes viu a sua votação crescer mas não foi eleito: mais 2000 votos, 1 deputado municipal e eleitos em todas as freguesias (passou de 5 para 8), mesmo num cenário de reforço do PS. No Porto, os votos confirmaram a que a eleição de João Teixeira Lopes tiraria a maioria absoluta a Rui Moreira, como fomos dizendo ao longo da campanha. A cidade e os portuenses vão amargar esta maioria absoluta.

Sondagens

Olhando para todas as que foram saindo desde Maio, podemos dizer que estiveram em linha com os resultados verificados. Com excepção das sondagens da Universidade Católica sobre o Porto que davam Rui Moreira e Pizarro empatados, proporcionando ao PS agitar a ideia de que podia vencer e apelar ao voto útil como fez Costa no encerramento da campanha do Porto. Um embuste, uma vergonha que devia ser averiguada.

Sobre o/a autor(a)

Médico. Aderente do Bloco de Esquerda.
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