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Que futuro para o legado de "Zédu"?

Que Luanda albergará um novo presidente, não há dúvidas. Que a oligarquia do MPLA, que tem saqueado o país sob o comando da família dos Santos, deixará de controlar os seus destinos, isso é outra história.

Amanhã, Angola vai a eleições, sabendo, à partida, que José Eduardo dos Santos não será mais presidente. Depois de 38 anos no poder, "Zédu", - o mais antigo governante do Mundo, juntamente com Obiang, da Guiné Equatorial - abandonará o seu cargo. Que Luanda albergará um novo presidente, não há dúvidas. Que a oligarquia do MPLA, que tem saqueado o país sob o comando da família dos Santos, deixará de controlar os seus destinos, isso é outra história.

João Lourenço, o atual candidato à presidência, foi escolhido por José Eduardo dos Santos. As sondagens não estão famosas para o partido do poder, mas também não é de esperar que o MPLA abdique facilmente. A prová-lo estão as denúncias de falta de transparência e tratamento desigual por parte dos partidos da Oposição. Isto sem falar da opressão política e institucional que o partido exerce no país.

Caso ganhe, as dúvidas recaem sob que caminho escolherá Lourenço.

A primeira hipótese é ser um fantoche de José Eduardo dos Santos que, habilmente, teceu uma teia que lhe permitirá, e à sua família, manter um enorme poder sobre o país. Poder militar, uma vez que poderá continuar a nomear os seus generais durante oito anos. Poder político, através do lugar que conservará à frente do MPLA e no Conselho da República. E, mais importante, poder económico, que reparte com os seus generais e família. Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África, está à frente da petrolífera estatal Sonangol, além de bancos e empresas de comunicação. Zenú, irmão mais novo de Isabel, envolvido num alegado esquema de desvio de dinheiro denunciado nos Panamá Papers, manter-se-á à frente do Fundo Soberano de Angola. Tchizé e José Paulino, os dois irmãos seguintes, controlam dois canais de televisão. Eduane, o mais novo, é acionista do Banco Postal Angolano. Isto sem falar em Manuel Vicente, e os generais "Kopelipa" e "Dino", envolvidos no saque ao Banco Espírito Santo Angola e investigados por corrupção e branqueamento em Portugal.

Terá Lourenço a coragem, ou ambição, para retirar as sanguessugas da família dos Santos do aparelho económico angolano? Se não o fizer, confirmar-se-á a tese do fantoche. Mas, caso aconteça, que fará Lourenço, um homem do regime, cúmplice do saque, com essas nomeações? Será que o melhor que Angola pode esperar do MPLA é a dança das cadeiras da oligarquia em busca da revalidação política, popular e internacional? Ainda não sabemos.

Mude o que mudar a partir de amanhã, uma coisa é certa. José Eduardo dos Santos, o homem de quem se fala, muitas vezes com reverência, e que Portugal sempre se recusou a condenar, saqueou Angola nos últimos 38 anos. Usurpou dinheiro dos diamantes e do petróleo para enriquecimento próprio, deixando a população sem liberdade, educação ou serviços públicos. É esse o seu legado.

Artigo publicado no “Jornal de Notícias” a 22 de agosto de 2017

Sobre o/a autor(a)

Deputada. Dirigente do Bloco de Esquerda. Economista.
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